Pandemia reforça espaço da Realidade Virtual na indústria

Por: Angieli Maros/Especial CIMM      Exclusiva 10/05/2021 

As restrições forçadas pela pandemia da Covid-19 quebraram rotinas e exigiram soluções na velocidade da luz. Nos mais diferentes setores da Economia, cuja dinâmica desacelerou em ritmo mundial, a fonte de recursos tecnológicos de ponta se mostrou uma saída eficiente e sem volta. Das possibilidades encorajadas, a Realidade Virtual (VR, de Virtual Reality) ganhou ainda mais visibilidade, destacando a experiência imersiva como alternativa a tradicionais etapas dos processos de produção e modelos de atendimento.

Da medicina ao turismo, em modelos que potencializam novas interfaces do usuário, a RV é uma aposta para diferentes campos – e não poderia ser diferente no circuito da Indústria 4.0. Baseada no uso de sistemas computacionais que simulam ambientes com a ajuda de dispositivos – “óculos” de transmissão adaptados às necessidades dos usuários –, trata-se de uma tecnologia que acumula funcionalidades. Em tempos de pandemia, trouxe perspectivas diante de contínuas limitações e chamou a atenção, dentre outros motivos, por assegurar relações mais preservadas, como colaboração em tempo real, ou seja, o trabalho conjunto independente de um espaço físico em comum. 

Mesmo que os custos elevados ainda sejam um freio à sua difusão, as ferramentas de Realidade Virtual abrem caminho não apenas para a modernização e otimização da cadeia produtiva, mas também se coloca como uma variante de investimento. Ao lado de dezenas de outras tecnologias características da manufatura avançada, como a Internet das Coisas, a Inteligência artificial e a robótica, mostra-se como oportunidade de redução de custos operacionais, na medida em que diminui riscos de intervenção e dinamiza as atividades fabris. 

Pesquisa divulgada no último mês de dezembro pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que 54% de empresas com até três tecnologias integradas aos seus processos de produção tiveram, durante o ano de 2020, lucro igual ou maior que o período anterior à pandemia. Das que não haviam adotado nenhum, o índice caiu para 47%.


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Não por menos, o Governo Federal decidiu assumir como política pública o avanço da Indústria 4.0 no Brasil. No campo da realidade virtual, passou a mobilizar projetos para capacitar jovens estudantes – em oficinas próprias implementadas pelo Ministério da Educação (MEC) – e apoiar startups com projetos na área.  

Limitações da pandemia aceleram uso

Enquanto o Brasil busca meios para democratizar o acesso aos recursos da manufatura avançada, grandes indústrias do país já vêm aperfeiçoando a execução de tecnologias revolucionárias como a Realidade Virtual - processo acelerado na pandemia. 

Em Campinas, a unidade da Bosch se tornou uma das primeiras da América Latina a integrar a VR  à rotina de produção. A novidade se concentra no uso dos smart glasses, espécie de óculos usados para a manutenção de equipamentos de forma colaborativa. O projeto já estava em andamento, mas a pandemia deu mais velocidade à implementação da ferramenta.  

Em algumas plantas da Bosch na Alemanha, os smart glasses tiveram papel fundamental com o avanço da Covid-19, e permitiram que o trabalho continuasse quase sem interrupções durante o período de isolamento social.

“Realmente, a pandemia acelerou a adoção dos smart glasses, óculos inteligentes que permitem realizar atividades de manutenção de forma remota e em tempo real, com precisão e suporte de um especialista, independentemente do local onde ele esteja, no Brasil ou no exterior, inclusive”, afirma Júlio Monteiro, diretor industrial da Bosch. “No entanto, o uso de soluções de realidade aumentada, que possibilitam a redução de tempo de resposta nas intervenções em equipamentos nas áreas técnicas e fabris, por exemplo, já estavam nos planos da Bosch há algum tempo, especialmente porque a empresa vem trabalhando dentro do conceito de Indústria 4.0, acrescenta.

Nesse sentido, os dispositivos – quatro até agora –  chegam para dar mais eficiência e agilidade às atividades da empresa. A tecnologia adotada reduz a possibilidade de erros operacionais e também do tempo gasto em reparos, além de garantir o distanciamento social e evitar o risco de contaminação em tempos de pandemia.

Isso porque tem como uma das vantagens agregadas o suporte não-presencial. Distante do ambiente onde a atividade está sendo executada na prática, a pessoa que usa os óculos guia quem “está do outro lado da tela” até a máquina ou processo. Pela tecnologia da realidade aumentada, o especialista então vê a imagem transmitida em seu monitor e, assim, pode dar instruções para auxiliar as intervenções necessárias.
 
A incorporação das tecnologias da Indústria 4.0 pela Bosch decorre da sua relação não apenas interna, mas também externa com o percurso da nova cadeia produtiva. Guiada pelos conceitos da manufatura avançada e pelo sistema lean manufacturing, a empresa também atingiu patamares de referência na oferta de soluções para conectar a cadeia produtiva, especialmente as pequenas e médias empresas

“Em um contexto amplo dentro dos diferentes campos de atuação da Bosch, os investimentos da empresa em transformação digital são contínuos e fundamentais para a competitividade dos negócios, além de estarem diretamente ligados à estratégia da empresa que é ser uma líder global em AIoT (Inteligência Artificial e Internet das Coisas). É por meio da IA, com dados coletados, que coisas conectadas se tornam inteligentes e isso está alinhado ao objetivo da Bosch de criar ‘tecnologia para a vida’ e melhorar o dia a dia das pessoas”, coloca Monteiro. 

O mercado das fábricas inteligentes, agora analisado sob aspectos mais primordiais e imediatos, cresceu, mas a transferência das soluções disponíveis também passou por readequações neste período de crise sanitária e econômica. 

Referência brasileira na oferta de recursos para a Indústria 4.0, inclusive tecnologias de suporte de realidade virtual, a SKA colocou em prática uma nova dinâmica para não deixar clientes na mão. Como demanda fundamental, instalações e treinamentos remotos passaram a fazer parte do esquema de trabalho da equipe – que, apesar da retração industrial, também viu a busca por seus produtos aumentarem consideravelmente ao longo de 2020. 

De acordo com o engenheiro de aplicações da SKA, Guilherme Kastner, embora as implicações da pandemia tenham segurado o desenvolvimento de projetos de suporte à tecnologia da VR, a preparação para atender o mercado segue em ritmo de prontidão.

“O pessoal hoje está na busca por mais ferramentas que possam ter colaboração em tempo real, recursos para que a colaboração ocorra independentemente de onde estejam, que possam acessar. Elas querem ter a possibilidade de controle e ao mesmo tempo garantir a segurança da informação”, salienta. 

A empresa, com sede em São Leopoldo (RS), tem hoje 8.200 clientes ativos. O número leva em conta apenas contratos de atualização tecnológica e abrange uma gama de perfis, desde startups locais até grandes nomes do complexo industrial brasileiro, em uma lista que cresceu durante a pandemia.

“Fechamos projetos que estavam rolando desde o ano anterior com três grandes empresas. [A pandemia] acelerou, sim, a negociação porque eles precisavam virtualizar boa parte do processo de colaboração. E isso envolve tecnologias, como o uso da realidade virtual para gestão de colaboração”. 

Apesar da boa performance dos projetos de VR, soluções voltadas para o uso da Realidade Aumentada (AR) têm sido o destaque da empresa gaúcha, inclusive pela maior acessibilidade. No ano passado, o emprego  diverso de recursos de Realidade Aumentada, que agregam informações virtuais a elementos reais, por meio do uso de dispositivos simples como tablet e celular, cresceu consideravelmente em todo o mundo.  

Projeção feita pela companhia de análise de dados de mercado ReportLinker, na França, mostra que o mercado mundial da Realidade Virtual foi avaliado em US$ 6,1 bilhões em 2020, projeção que salta para US$ 20,9 bilhões em 2025. Os estudos já consideraram o impacto da Covid-19 nos negócios. Segundo o levantamento, fatores como a chegada dos dispositivos HMDs no setor de jogos e entretenimento em contextos pós-pandemia e a digitalização crescente devem ser os principais impulsos para o desempenho em crescimento acelerado. 

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