O abismo entre o planejado e o real na indústria 4.0
Durante a implementação física de uma fábrica inteligente, por mais detalhado que tenha sido feito seu planejamento, é praticamente certo que acontecerão discrepâncias e diferenças g
11/11/2024Durante a implementação física de uma fábrica inteligente, por mais detalhado que tenha sido feito seu planejamento, é praticamente certo que acontecerão discrepâncias e diferenças g
11/11/2024Assim como não existe o projeto 100% ideal, também não existe um plano de implementação perfeito. Portanto, muitas vezes nos deparamos com um abismo operacional quando chega a hora de colocarmos em prática tudo o que foi planejado e pensado previamente.
Nesta edição, vou abordar um assunto que se refere às discrepâncias e às surpresas encontradas durante a implementação de um projeto, enfatizando que pode existir um abismo entre tudo aquilo que foi planejado no papel e a vida real, no piso de fábrica. Quando digo “piso de fábrica”, quero mencionar todos os locais onde realmente ocorrem as operações na vida real, sejam elas nos armazéns ou nas docas de carga/descarga, nas operações de equipamentos ou na montagem e embalagem.
Durante a implementação física de uma fábrica inteligente, por mais detalhado que tenha sido feito seu planejamento, é praticamente certo que acontecerão discrepâncias e diferenças geradas por falhas no planejamento, ausência de conhecimento, falta de informações e também falhas humanas.
Existe sim um abismo operacional, muitas vezes enorme, entre um processo executado dentro de um escritório ou mesmo de um laboratório, versus um processo executado no chão de fábrica, na mais pura realidade operacional.
Portanto, é lá, na hora em que a roda começa a girar, na vida real, que os imortais começam a sentir na pele a real existência de problemas e as surpresas começam a surgir. Furos que não se alinham, peças que não se encaixam, rebarbas maiores que o estimado, tempo padrão maior que o planejado, dureza do material variando, cores que não batem, embalagem que não fecha, aumento do fluxo produtivo, alterações e desbalanceamento na cadência, desgaste prematuro de ferramentas e equipamentos, fadiga operacional dos operadores, diferença climática do dia a dia, e por aí a coisa vai, sempre em direção ao abismo.
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São inúmeras as variações que podem acontecer e muitas delas são imprevisíveis, principalmente quando se lida com pesos e medidas, dureza dos materiais, processos cabulosos como fundição de metais, injeção de metais não ferrosos, injeção de termoplásticos e resinas, usinagem, acabamentos superficiais, tratamentos térmicos, repuxo de peças metálicas, manuseio de componentes eletrônicos, soldagem ou crimpagem de peças, movimentação de materiais, fornos de indução e seus derivados.
A altura do abismo está relacionada diretamente à qualidade e a excelência do planejamento prévio de uma cadeia produtiva, portanto pode ser mais raso ou mais profundo.
Como o desespero não leva a lugar nenhum, o que vale é se concentrar e utilizar a única ferramenta existente para esses tipos de ocorrência, chamada de AJUSTES. Eles existem, e devem ser amplamente utilizados por profissionais competentes e profundamente conhecedores dos processos dessa cadeia produtiva. São imprescindíveis, e afirmo que nunca vi uma situação onde não tivessem sido necessários. No entanto, devem ser utilizados com inteligência e parcimônia, evitando assim corrigir uma discrepância e gerar outra maior, mais adiante.
Muita calma nessa hora: sugiro análise detalhada e cautela antes de fazer qualquer ajuste. Outra coisa importante a ser mencionada é o fato de que de nada adianta procurar a solução no Google, pois cada cadeia tem seu próprio DNA, portanto os ajustes são específicos para ela.
Também não adianta querer utilizar um ajuste para resolver uma aquisição de equipamento ou ferramenta não apropriados para o processo, pois eles não resolvem erros banais e elementares.
Outro erro é achar que essas anomalias acontecem somente no tryout ou na rodada piloto do projeto, pois elas acontecem também no dia a dia, onde as variáveis estão sempre presentes e os desvios são frequentes.
Vamos aqui imaginar, como exemplo, uma variação na dureza de uma bobina de aço laminado a frio, que será repuxado para a formação de uma peça, cujo acabamento superficial será o cromo. Com certeza o problema somente será detectado a partir da aplicação do cromo, portanto um processo alternativo e posterior aquele que realmente causou a não conformidade poderia ser criado como uma contingência operacional.
Os ajustes têm vida longa, e irão conviver por toda a existência da cadeia produtiva.
A maturidade de uma cadeia produtiva está muito relacionada à frequência e à qualidade dos ajustes que, quando bem aplicados, influenciam muito na sua excelência operacional, enriquecendo o conhecimento e a cultura da empresa como um todo.
A felicidade não existe, e a lei de Murphy está sempre à espreita para atacar…
*Imagem de capa: Depositphotos.com
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