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Agenda 2030: Indústria 4.0 é um dos principais mecanismos para alcançar melhores níveis de sustentabilidade na indústria

Túlio Duarte, Diretor da Vertical Manufatura 4.0 da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), fala sobre como a Indústria 4.0 se comporta na pandemia e do compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Por: Stefani Ceolla/ Especial CIMM      Exclusiva 18/10/2021 

A jornalista especial do CIMM e do Ind. 4.0, Stefani Ceolla, conversou com o diretor da Vertical Manufatura 4.0 da Acate, Túlio Duarte, para a realização da matéria Tecnologias da indústria 4.0 auxiliam empresas a cumprirem Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Na oportunidade, o diretor da Acate falou sobre a importância da adoção da Indústria 4.0 para ampliar a eficiência da indústria brasileira, ao mesmo tempo em que a iniciativa privada visa atingir as metas sustentáveis propostas na Agenda 2030, da ONU.

Nesse sentido, a inovação industrial voltada para uma produção dentro do conceito da Indústria 4.0 é inevitável e essencial para o futuro da indústria brasileira e para a mitigação dos efeitos nocivos ao meio ambiente por parte da indústria. 

Confira a entrevista completa:

Como as tecnologias da indústria 4.0 auxiliam as empresas a cumprirem os ODS da Agenda 2030 da ONU?

Túlio Duarte: A Agenda ODS 2030 é um plano de ação para o desenvolvimento sustentável até 2030 que contém 17 objetivos. O Objetivo 9 diz respeito especificamente à indústria de manufatura e estabelece que deve ser aumentada a participação da indústria (e dos empregos inerentes desta atividade) no PIB dos países. No Brasil, esse objetivo da agenda foi aprimorado, incluindo que deve ser realizado de maneira sustentável considerando a produtividade, a estrutura produtiva, a sustentabilidade nas três dimensões (econômica, social e ambiental) e aumento da complexidade tecnológica dos produtos fabricados.

Os conceitos (e soluções) da indústria 4.0 estão diretamente alinhados à Agenda 2030 no seu Objetivo 9. Ou seja, a indústria 4.0 será um dos principais mecanismos para se atingir tal objetivo e é um passo adiante nesse sentido. 


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Isso porque a jornada para o modelo de produção da indústria 4.0 levará as empresas a evoluírem em três aspectos no seu modelo produtivo: a eficiência do processo produtivo utilizando a informação e tecnologia para uma "produção guiada pela informação" (que impacta diretamente na produtividade, sustentabilidade econômica e ambiental); o “desenvolvimento acelerado de produtos”, ou seja, uma produção em série de inovações (que impacta diretamente no aumento da complexidade tecnológica dos produtos fabricados e a estrutura produtiva, agregando mais valor, funcionalidades e serviços nos produtos), e os “novos modelos de negócios”, também conhecido como "smart products" (que impactam diretamente na sustentabilidade econômica, social e ambiental, pois serviços atrelados aos produtos geram modelos baseados em ganhos recorrentes e, por consequência, no interesse em manter a vida útil do produto como plataforma de oferecimento de serviços diminuindo, no limite, a famosa "obsolescência programada").

As soluções alinhadas aos conceitos da indústria 4.0 e que levarão as empresas para este novo modelo de produção estão totalmente apoiadas e construídas com as tecnologias habilitadoras, como Internet das Coisas, Cloud, Big Data, Manufatura Aditiva, entre outras. Sem elas, não há Indústria 4.0 e, sem isso, ficará mais difícil o caminho para atender ao Objetivo 9 da Agenda 2030. Por essas razões, acredito que as tecnologias da indústria 4.0 e as soluções alinhadas neste conceito serão o principal meio para se atingir os objetivos da Agenda 2030.

Além da produtividade e economia, existe uma preocupação dessas empresas com a sustentabilidade, responsabilidade ambiental e social? Pode dar exemplos?

Túlio Duarte: Sim. A sustentabilidade tem três dimensões: econômica, social e ambiental. As empresas que buscam se alinhar neste novo modelo de produção da indústria 4.0 estão inerentemente também trabalhando esses aspectos da sustentabilidade. Por exemplo, uma empresa que na sua jornada para a indústria 4.0 investe no "smart manufacturing", ou seja, utiliza a informação para diminuir desperdícios, enxugar perdas e melhorar a eficiência do processo produtivo está, por tabela, gastando menos material, utilizando menos água, gastando menos energia, jogando menos produto acabado fora, diminuindo custos e tornando produtos financeiramente mais acessíveis. Isso permite que mais pessoas possam utilizar estes produtos e serviços, melhorando a qualidade de vida delas. Neste segmento, soluções como MES 4.0, Controle de Qualidade 4.0, Gestão de eficiência energética, Rastreabilidade e Manutenção Preditiva são bons exemplos de porta de entrada para este novo modelo.

Um outro exemplo é de uma empresa alemã que desenvolve prótese de ombros. Esse tipo de prótese tem um mercado menor que outros tipos, como a de braços e pernas, e, portanto, uma evolução mais lenta. A empresa adotou no seu processo de inovação a manufatura aditiva (impressão 3D) e, ao invés de testar um novo modelo a cada três meses (tempo que leva para criar uma nova ferramenta), começou a imprimir um protótipo novo a cada dia. A adoção desta tecnologia além de diminuir o tempo que um novo modelo de prótese chega ao mercado, permitiu também uma variedade maior de próteses, atendendo aos diferentes tipos de corpos e necessidades.

Alguns países já começam a estabelecer conexão entre a indústria 4.0 e a sustentabilidade, indicando que isso pode ser a base de um movimento incipiente, já apelidado em alguns lugares de "Indústria 5.0". Então, enquanto a indústria 4.0 visa subir o patamar de competitividade das empresas, sem mencionar explicitamente a sustentabilidade, a 5.0 visaria também elevar este patamar, mas com um forte apelo e alinhamento à questão da sustentabilidade nas três dimensões.

Como está o cenário da indústria 4.0 em Santa Catarina neste momento? Qual foi o impacto da pandemia nestas empresas? 

Empresas que adotaram as soluções de indústria 4.0 durante a pandemia tiveram melhor desempenho, melhor resultado e maior lucratividade. Esse é o resultado de uma pesquisa divulgada pela CNI no final de 2020 que mostra muito bem a diferença entre as empresas que adotaram e as que não adotaram as soluções da Indústria 4.0. As que adotaram conseguiram utilizar estas soluções para gerir o processo produtivo, mantendo a eficiência, adaptando-se mais rápido às mudanças e reagindo mais rápido ao mercado.

Aqui em Santa Catarina, temos tido uma boa receptividade quanto à adoção destas soluções em razão de alguns fatores importantes. Temos aqui grandes polos de empresas de tecnologia, que já possuem soluções neste conceito; há um trabalho em conjunto de governos, entidades associativas, academia e a própria indústria na difusão da informação correta sobre a indústria 4.0 e desmistificação do conceito, mostrando que as soluções são acessíveis para as PMEs também. Além disso, existe a percepção e divulgação dos bons resultados de quem adota estas soluções, principalmente na parte que tange a melhoria no processo produtivo utilizando a informação.

Vale destacar e reforçar a existência e o papel importante das entidades e dos ecossistemas de inovação como a Acate Vertical Manufatura 4.0, Acate LinkLab, o Ágora Tech Park, a ABII, que vêm desempenhando uma função fundamental neste processo, ajudando a indústria catarinense a aderir de maneira acelerada aos conceitos deste novo modelo produtivo e a se modernizar, principalmente durante a pandemia.
Observa-se que a pandemia ajudou a acelerar a digitalização e migração das indústrias para o modelo da indústria 4.0 no estado, principalmente nos setores onde a demanda subiu, como o setor de alimentos, produtos de higiene e bens intermediários. Já no setor têxtil, por exemplo, o impacto foi grande e acabou adiando os planos destas empresas de evoluírem para o novo modelo.

Túlio Duarte é Diretor da Vertical Manufatura 4.0 da Acate. Imagem: Divulgação

 

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