Sociedade 5.0: Rumo à evolução tecnológica e social

Nos últimos tempos, temos observado uma mudança significativa em nossa sociedade impulsionada pela tecnologia. Uma dessas visões revolucionárias vem do Japão e é conhecida como Sociedade 5.0.

Por: Wesley Sa Teles Guerra      06/05/2024

Nos últimos tempos, temos observado uma mudança significativa em nossa sociedade impulsionada pela tecnologia. Uma dessas visões revolucionárias vem do Japão e é conhecida como Sociedade 5.0. Esse conceito não se trata apenas de avanços tecnológicos, mas também de como essas tecnologias podem aprimorar a qualidade de vida das pessoas e promover uma sociedade mais inclusiva e sustentável. É talvez a primeira tentativa real de estabelecer as bases de uma sociedade digital totalmente integrada à tecnologia.

A origem do conceito

A ideia de Sociedade 5.0, centrada em uma sociedade altamente conectada e tecnologicamente avançada, surgiu pela primeira vez em 2015, como parte do 5º Plano Básico de Ciência e Tecnologia para 2016-2021 no Japão. Promovida pelo Gabinete do Primeiro Ministro, Shinzo Abe, e apresentada ao mundo na feira CeBIT de Hannover em 2017 (mesmo local onde a Alemanha apresentou o conceito de Revolução 4.0), juntamente com a Keidanren, a federação empresarial japonesa. Esta visão era uma resposta às iniciativas de países como Alemanha e China na área da tecnologia, e visava estabelecer um caminho para o futuro do Japão, país marcado pela estagnação econômica das últimas décadas e o envelhecimento avançado de sua população, deixando de ser a segunda maior economia do planeta e sendo substituído pela China.

O desenvolvimento do conceito e a estratégia para a Sociedade 5.0 são conduzidos pelo Conselho de Ciência, Tecnologia e Inovação. Quatorze ministérios estão envolvidos nesse esforço, incluindo os de Educação, Economia, Saúde e Agricultura. A Sociedade 5.0 foi posteriormente integrada à Estratégia Integrada de Inovação, lançada em junho de 2018 como parte dos esforços do Japão para se tornar um líder global em inovação e recuperar assim seu prestígio e peso no cenário internacional.

Sociedade 5.0 além da sociedade da Informação

Embora a visão da Sociedade 5.0 seja amplamente aceita, sua implementação enfrenta desafios significativos. Um dos principais obstáculos é a falta de um quadro orçamentário claro para orientar o desenvolvimento e a implementação das políticas necessárias para realizar essa visão, assim mesmo, existem pontos de ruptura em questão de direitos humanos e ética, além do impacto da cultura e da resistência de alguns setores da população e a falta de consenso em novos paradigmas tais como o transhumanismo. No entanto, o Japão continua comprometido em buscar essa visão de uma sociedade mais conectada e tecnologicamente avançada, onde os benefícios da tecnologia possam ser compartilhados por todos.


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A Sociedade 5.0 visa integrar tecnologias emergentes, como inteligência artificial, internet das coisas, big data, robótica e biotecnologia, para resolver problemas sociais e criar um novo paradigma socioeconômico. O objetivo é transcender a sociedade atual, centrada na informação (Sociedade 4.0), para uma sociedade que coloque as necessidades humanas no centro de todas as inovações e que o ser humano volte a ser agente de mudanças em lugar de um espectador passivo, formando parte dessa inovação, não somente como usuário, consumidor ou programador, mas como receptor dessa tecnologia, como pode ser o uso de próteses robóticas para ampliar a capacidade produtiva das pessoas e seus resultados, ou o uso de novas tecnologias em seu desempenho como cidadão e nos seus afazeres… integrando o físico ao digital.

No cerne da Sociedade 5.0 está a ideia de harmonizar o mundo digital com o “mundo real”, criando um ambiente onde as pessoas possam desfrutar dos benefícios da tecnologia de forma segura e inclusiva. No entanto, embora o potencial seja imenso, existem várias barreiras a serem superadas para alcançar esse futuro promissor sendo as principais:

  • Barreira Tecnológica: A rápida evolução tecnológica pode deixar algumas pessoas para trás, criando uma lacuna digital entre aqueles que têm acesso e habilidades para usar novas tecnologias e aqueles que não têm. A famosa universalização da tecnologia de fato é uma falácia ainda longe de ser uma realidade.
  • Barreira Humana: A resistência humana à mudança e o medo do desconhecido podem dificultar a adoção generalizada de tecnologias disruptivas.
  • Barreira Legal e Ética: Questões relacionadas à privacidade, segurança de dados e ética no uso de tecnologias como inteligência artificial e biotecnologia precisam ser abordadas para garantir uma implementação justa e responsável. A religião e os códigos morais ainda são fontes influenciadoras de políticas e muitas vezes determinam o ritmo do avanço da ciência. Desde a experimentação com animais aos direitos reprodutivos ou biotecnologia avançada assim como a nanorobótica ainda sofrem com muitas barreiras ideológicas e filosóficas.
  • Barreira Societal: Desafios socioeconômicos, como desigualdade de renda, acesso desigual a serviços de saúde e educação e exclusão social, podem impedir a realização plena dos benefícios da Sociedade 5.0. Assim como os velhos modelos de gestão lineal ou escalonada, que estabelecem hierarquias e assimetrias entre as pessoas.
  • Barreira Ambiental: O desenvolvimento tecnológico deve ser sustentável e eco-friendly para evitar impactos negativos no meio ambiente e no ecossistema global. Porém ao mesmo tempo deve possuir a capacidade de gerar mudanças drásticas na forma que produzimos e nos relacionamos com o meio ambiente.
  • Barreira de Segurança: Com a integração de sistemas cibernéticos em todos os aspectos da vida, é crucial garantir a segurança cibernética e proteger as infraestruturas críticas contra ameaças cibernéticas.

O temor ao desconhecido e o aumento das problemáticas globais, fazem com que o ser humano busque em velhos padrões e sistemas de organização a segurança social, econômica e política, que tinham no passado (ou que julgavam ter), tratando de emular comportamentos, decisões e ações que já não condizem com a realidade do mundo atual, incrementando os atritos e dando explicativa a novos fenômenos tais como o negacionismo tecnológico, terraplanismo, o neofascismo e o creacionismo… E nessa tentativa de arrumar as coisas, continuam reproduzindo modelos que nos levaram a situação de ruptura e declínio atual. Voltar ao passado ignorando as mudanças que nos trouxe até o momento atual é simplesmente incompatível.

Superar essas barreiras exigirá cooperação global, políticas progressistas e investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento.

Nesse sentido a valorização da educação e da cultura, assim como do trabalhador e do cidadão, se transforma em algo fundamental, porém sem as sombras projetadas pelas ideologias, crenças e sistemas filosóficos. O ser humano, deve ser o centro das coisas, sem importar sua etnia, filiação partidária, orientação sexual ou religião.

O Japão está na vanguarda dessa jornada rumo à Sociedade 5.0, mas é uma visão que pode e deve ser adotada em todo o mundo. Ao abordar esses desafios de frente, podemos construir um futuro onde a tecnologia seja verdadeiramente capacitadora e onde todos tenham a oportunidade de prosperar na era digital sendo os demais atributos (etnia, religião, filosofía política, orientação sexual, etc) o que realmente deveriam ser: características de sua personalidade e não fatores determinantes e condicionantes de todo o conjunto da sociedade ora defendidos ora atacados conforme o grupo dominante, e assim como nas redes sociais, convivem pessoas de diferentes religiões, pensamentos e códigos morais, trazer isso a realidade.

Tecnologia e Reconhecimento da Diversidade Humana são as chaves deste processo.

 

*Imagem de capa: Depositphotos

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Wesley Sa Teles Guerra

Wesley Sa Teles Guerra

Wesley ST Guerra, com mais de 15 anos de experiência em Internacionalização de Empresas e Cidades Inteligentes (SmartCities), especialista em Relações Internacionais e desenvolvimento de negócios, responsável por mais de 50 projetos, missões comerciais, feiras de negócios, delegações governamentais, estudos de mercado e setor acadêmico. Responsável pelo estudo de mercado "Plano para Bases de Ação Exterior Galícia-Brasil" para a Xunta de Galícia. Escritor publicado, fundador do Think Tank Ceres - Centro de Estudos das Relações Internacionais. Com formação em Design Thinking e Inteligência Artificial. Experiência docente, ganhador de bolsa em Harvard, formação ampla e multidisciplinar e dominio de mais de 5 idiomas. Com referências na Espanha, Brasil e África. Finalista do prêmio de Pesquisa Acadêmica na Galícia, finalista do Prêmio Editorial Diversidade.