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Agricultura 4.0 cria novos negócios em setores tradicionais do agronegócio

Indústrias de insumos, máquinas e equipamentos passam a oferecer serviços e soluções digitais

Por: Globo Rural      17/04/2020 

Na fazenda de um futuro não muito distante, um drone voa para mapear o terreno. Estações meteorológicas indicam os períodos chuvosos e secos, informam as condições do vento e apontam o momento ideal de plantar, colher e manejar a lavoura. O agricultor carrega pacotes de informações nas máquinas, que percorrem o campo em roteiros pré-programados e enviam de volta dados de telemetria sobre seu desempenho e até mesmo alertam sobre possíveis falhas.

Na chamada agricultura 4.0, ou agricultura digital, o trabalho dos produtores terá cada vez mais o suporte da tecnologia da informação para a tomada de decisões. Big Data e Internet das Coisas são termos cada vez mais ouvidos a cada safra. A edição de abril de Globo Rural, disponível no Globo+ e que está chegando às bancas traz uma série de reportagens e entrevistas sobre algumas das tecnologias que estão revolucionando o campo.

A propriedade rural está ficando cada vez mais online – e isso não tem volta. Mas a revolução digital não está acontecendo só da porteira para dentro. Ela estimula o surgimento de um número crescente de agtechs e está obrigando empresas mais tradicionais a repensar sua forma de atender e fidelizar a clientela. “É irreversível. A questão não é mais quando a digitalização vai chegar e sim como as empresas irão se adaptar a essa realidade”, afirma Almir Araújo, executivo da área de agricultura digital da Basf para a América Latina.

Um dos principais investimentos da multinacional alemã nessa área é a plataforma Xarvio, adquirida em agosto de 2018 e apresentada oficialmente ao mercado brasileiro na última Agrishow de Ribeirão Preto (SP). A função da Xarvio é identificar plantas daninhas para permitir a aplicação direcionada de defensivo, garantindo um manejo mais eficiente e, consequentemente, mais economia ao produtor.


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“As soluções para a agricultura, que antes se resumiam a produtos, agora incluem também serviços digitais. Estamos vendendo produtividade e campos saudáveis além de produtos”, observa Araújo. Depois de testes feitos em 150 mil hectares no ano passado, a Xarvio deve começar a ser comercializada ainda este ano.

Já a mais recente contribuição da Bayer para a agricultura digital é o Climate Fieldview, que faz um detalhado monitoramento de solo e clima. Criado por uma startup americana, o sistema foi comprado pela Monsanto e acabou na Bayer quando esta comprou a concorrente em 2016. Pode ser operado em lavouras de soja, milho e algodão.

No ano passado, a Bayer se associou à Bravium no lançamento de um marketplace digital em que a compra de insumos gera pontos em um programa de fidelidade, que podem ser trocados por diversos produtos e serviços. “Não é uma plataforma da Bayer, mas de todo o mercado”, afirma o presidente da divisão de soluções agrícolas da Bayer no Brasil, Gerhard Bohne, embora a multinacional de sementes e químicos detenha 80% da joint venture que criou o marketplace, substituto da Rede Agroservices.

Armazenagem e irrigação

A fabricante de silos Kepler Weber, por exemplo, lançou um programa de monitoramento que permite o controle remoto da secagem de grãos, a checagem da temperatura nos armazéns e o acionamento automático de equipamentos de aeração. O sistema, desenvolvido ao longo de três anos, foi apresentado na Agrishow e na Expointer, em Esteio (RS).

Na área de irrigação, a novidade da multinacional israelense Rivulis é um sistema de monitoramento via satélite que indica ao produtor os pontos da lavoura que precisam de mais ou menos água. A tecnologia foi desenvolvida pela companhia, mas, com plataforma aberta, se adapta a qualquer sistema. Os dados sobre volumes de irrigação e previsão climatológica são atualizados a cada cinco dias, facilitando o planejamento de gastos por parte do produtor. O sistema também mede a variação de umidade no terreno.

Máquinas e serviços

Na indústria de máquinas agrícolas, uma das principais mudanças trazidas pela agricultura 4.0 é a interconectividade. Como muitos produtores utilizam máquinas de marcas diferentes, os fornecedores de equipamentos se viram obrigados a trabalhar com plataformas abertas, para garantir a conexão entre elas.

“A competição ainda está na máquina e essa briga sempre vai existir. Mas a parte de comunicação de dados tem que ser aberta”, resume Silvio Campos, diretor de marketing de produto para América Latina da Case IH, do Grupo CNH Industrial.

Outro efeito mencionado por representantes dos fabricantes é uma mudança no papel das concessionárias, que estão deixando de ser apenas lojas de equipamentos para se tornarem centrais de serviços. O produtor que entrar numa delas para comprar um trator, poderá sair de lá também com contratos de instalação de sensores e estações meteorológicas, entre outras soluções. É um movimento que exige capacitação constante dos revendedores, analisa Campos, da Case IH. “Hoje a gente vende áreas mapeadas e áreas de serviços agronômicos, mas no futuro devemos vender praticamente a área plantada”, prevê o executivo.

Em setembro do ano passado, a CaseIH anunciou a aquisição da AgDNA, com a intenção de permitir ao produtor analisar dados de máquinas de marcas diferentes em uma só plataforma. A promessa da empresa é viabilizar a consolidação de informações agronômicas e de mercado.

A Agco, dona das marcas Fendt, Massey Ferguson e Valtra, também aposta em parcerias com empresas de serviços agronômicos e de processamento de dados. Segundo Diego Lopes, coordenador comercial da Valtra, todas as concessionárias do Brasil serão convertidas em fornecedoras de produtos e serviços digitais.

Lopes explica que engenheiros agrônomos foram integrados às equipes das concessionárias. “Assim, ligamos de uma vez por todas a máquina e a agronomia, áreas que sempre foram correlacionadas. O cliente compra a máquina e leva também tecnologia e alguém para dar suporte. Ele não precisará contratar um agrônomo. Nossas concessionárias vão oferecer os serviços dele”, garante.

Com o objetivo de viabilizar a conectividade no meio rural, empresas como CNH Industrial, Agco, Bayer, Jacto, Nokia, Solinftec, Trimble e TIM constituíram no ano passado o grupo ConectarAGRO. As empresas participantes cumpriram a meta de conectar cinco milhões de hectares até o final 2019 e realizam os trâmites legais para se tornar uma entidade sem fins lucrativos ainda este ano.

Infraestrutura própria

A falta de sinal de celular e de transmissão de dados é um gargalo que impede a uso mais eficiente dos dados no campo. O acesso aos dados em tempo real ainda depende de alguém levar as informações em uma memória física e carregar na máquina – e, depois, levar de volta o relatório do dia.

O cenário levou a John Deere – que não integra o ConectarAGRO – a também trabalhar além do seu negócio principal. Junto com uma parceira do setor de telecomunicações, a multinacional norte-americana desenvolveu uma infraestrutura própria de conectividade. E vem oferecendo a implantação de redes privadas para comunicação por voz e trânsito de dados entre máquinas da própria marca e das concorrentes.

“Os produtores rurais podem esperar muito tempo até que uma boa estrutura de comunicação chegue à sua região. E eles já estão cansados de esperar, querem uma solução agora. Isso nos forçou a olhar a comunicação como habilitador das nossas soluções agrícolas”, diz o gerente de soluções integradas da John Deere Brasil, Rois Nogueira.

No sistema disponibilizado pela John Deere, as informações são gerenciadas por uma plataforma online da própria fabricante, o Operations Center, que atua como um agregador de dados de máquinas, operações e informações agronômicas. As concessionárias John Deere se encarregam de viabilizar o acesso aos serviços e à gestão dos dados.

“Isso tem moldado e vai continuar moldando a nossa indústria. Um trator, em combinação com tecnologias de agricultura de precisão e digitais, e com serviços providos pela rede de concessionárias, vai entregar ao produtor uma solução muito mais ampla e com um valor agregado maior. Sem dúvida, o representante da marca deixou de ser só vendedor”, diz Nogueira.

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