Já imaginou uma cidade inteiramente conectada, com seus sistemas de transporte, governança, educação, iluminação pública e energias renováveis operando de forma integrada com os cidadãos? Esse tipo de funcionamento urbano já existe e é chamado de cidade inteligente ou Smart City (SC).
Na UFF, sob a coordenação do professor Luiz Satoru Ochi, um grupo de pesquisadores do Instituto de Computação se dedica a estudar esse fenômeno no Brasil e também no mundo, estabelecendo parcerias com diversas empresas brasileiras, como a Petrobras e o IBGE, e com universidades francesas, a exemplo da Avignon Université e da Université de Versailles-Saint Quentim.
Segundo Luiz Satoru Ochi, “o conceito de SC envolve a utilização da tecnologia para facilitar o planejamento e a construção de serviços inteligentes para as cidades. Seu maior benefício, portanto, é o de trazer qualidade de vida para as pessoas”.
Os encontros do grupo de pesquisadores, formado por professores de diversas universidades brasileiras e francesas, assim como estudantes de pós-graduação, acontecem também na UFF, no Laboratório de Inteligência Computacional do Instituto de Computação da UFF (LabIC).
"A ciência precisa estar sempre à frente de seu tempo, prevendo adversidades e também propondo soluções”, Elias Lawrence.
Nesse espaço, eles têm se dedicado a desenvolver novas tecnologias através de pesquisas acadêmicas e junto às empresas e indústrias, na formação de recursos humanos e no desenvolvimento de novos produtos direcionados à população como um todo. Algumas dessas tecnologias estão voltadas, por exemplo, à melhoria dos setores de serviços públicos e privados do país.
Um exemplo é o trabalho desenvolvido por Elias Lawrence, aluno de mestrado do departamento de computação, orientado por Satoru Ochi. O mestrando pesquisa o roteamento de drones com o intuito de encontrar rotas para que os veículos cumpram seus objetivos de forma rápida, econômica e segura. Os drones seriam empregados para inspeção de áreas de risco, em pontes, rede elétricas etc.
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Segundo Elias, “uma economia que negligencia condições sociais de sua população não pode ser considerada inteligente. A cidade deve saber tudo o que está acontecendo dentro de seus limites, guardando dados sobre trânsito, crimes, desastres... Falta de informação não pode ser um obstáculo para autoridades resolverem os problemas dos cidadãos”.
O conceito de Smart City, explica o mestrando, “vai além da crença popular de uma cidade cheia de robôs, como no desenho animado dos Jetsons e em outras ficções científicas. Trata-se de cidades planejadas e tratadas de forma inteligente pelas autoridades, em conjunto com a comunidade científica, visando ao crescimento econômico, mas sem deixar de lado a sustentabilidade”.
Outro exemplo possível de utilização da tecnologia para a construção de uma SC gira em torno do problema de desperdício da água potável e de análise de sua qualidade. Algumas empresas já pensam, num cenário futuro, por exemplo, a realização de um monitoramento e gerenciamento de ecossistemas aquáticos inteiros, desde rios e reservatórios até bombas e canos das casas, de modo a conferir informações úteis aos indivíduos; se possível, diminuindo também a demanda.
Também pode ser citado o emprego de tecnologia digital para solucionar questões de governança, o que implicaria um melhoramento da comunicação do setor público e incentivaria a população a participar dos processos de tomada de decisão. Os sistemas de votação se tornariam mais eficientes e contribuiriam para um governo mais transparente e responsável.
Perspectivas futuras
A equipe coordenada por Satoru Ochi tem muitos projetos que, tais como os citados anteriormente, relacionam-se à construção das SC. Dentre os promissores planos para o ano de 2019, por exemplo, está o de inaugurar no Rio de Janeiro uma Escola de Verão para estudantes de graduação e pós-graduação com a temática das Smart Cities. A iniciativa será realizada em conjunto com universidades francesas e terá o apoio dos consulados da França no Rio de Janeiro e em São Paulo.
A ideia central do evento é reunir durante uma semana estudantes de graduação e pós-graduação do Brasil, da França e de países da América Latina para a realização de atividades diversas, e em tempo integral, sobre o estado da arte, novas tendências e a importância das SC.
No evento, serão convidados alguns especialistas do Brasil, da França e, eventualmente, de outros países, para ministrar minicursos e palestras sobre o tema. Além disso, os estudantes que já atuam na área irão fazer apresentações e abrir discussões entre eles para produzir novas ideias sobre as SC.
Para Luiz Satoru Ochi, pensar as SC se faz urgente e fundamental na construção de outro modo de viver e na abertura de uma nova forma de “diálogo entre as cidades e os cidadãos”, e a ciência é um campo fértil para isso. Como explica Elias, entusiasmado com sua pesquisa, “a ciência precisa estar sempre à frente de seu tempo, prevendo adversidades e também propondo soluções”.