A internacionalização de startups de tecnologia industrial exige muito mais do que inovação e tecnologia de ponta. Para que essas empresas tenham sucesso em mercados globais, elas precisam estar bem preparadas para os desafios comerciais, culturais e técnicos que encontrarão pelo caminho. Essa visão é o pilar central do Brazilian Indtechs in Germany (BiG), programa que coloca a capacitação como base de sua metodologia.
A missão de dez dias na Alemanha, que começa nesta segunda-feira (31), representa a última etapa da capacitação e imersão no mercado alemão, alinhada ao diferencial do BiG: um programa que une tecnologia, inovação e um ambiente humanizado para apoiar a internacionalização de startups de tecnologia industrial.
O BiG é fruto da colaboração das equipes Bcome.global, Findeslab, Fapes, Novus, Programa de Diplomacia da Inovação do Itamaraty, Buuk e Canal Indústria 4.0.
Confiança e preparação: os pilares do BiG2025
Uma das premissas do BiG2025 é que negócios são feitos com base na confiança – e confiança exige preparação. Desde a primeira fase do programa, os participantes são desafiados a responder três questões centrais:
- Por que internacionalizar?
- Qual é o real diferencial da sua indtech?
- Como adaptar sua abordagem para o mercado alemão?
Para responder a essas perguntas de forma estruturada, o programa realizou seis encontros na primeira etapa: três para capacitação, dois para apresentação de pitch e um para sanar dúvidas restantes.
Entre os destaques dessa fase, estão as capacitações especializadas, voltadas para estratégias comerciais, cultura de negócios e prospecção de clientes na Alemanha. A partir delas, as indtechs aprendem, colocam em prática e consolidam abordagens eficientes para vender no mercado industrial e demonstrar seu compromisso com inovação.
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A primeira etapa contou com a participação de Jonas Braun, especialista em vendas B2B e fundador da SaleUp GmbH, uma consultoria localizada em Mannheim, Alemanha, que trouxe insights valiosos sobre abordagens eficazes de networking e vendas para scale-ups. Com uma metodologia interativa e exemplos práticos, Jonas compartilhou estratégias para otimizar a comunicação com parceiros alemães, destacando a importância da clareza e objetividade nas interações.
Segundo um dos CIOs participantes, “as capacitações foram muito pertinentes e objetivas, abordando não apenas aspectos comerciais e de internacionalização, mas também as especificidades para se conectar de forma mais assertiva com parceiros alemães. Ainda mais por virem de um alemão, as proposições foram muito naturais e significativas”.
Outro executivo reforçou a importância do aprendizado sobre a cultura de negócios alemã: “as reuniões foram extremamente enriquecedoras, proporcionando uma visão sobre as particularidades culturais que impactam na prospecção e negociação comercial nesse mercado”.
Além da teoria, o programa trouxe demonstrações práticas sobre networking presencial e digital, com destaque para o uso estratégico do LinkedIn na abordagem de clientes e parceiros. O Internationalization Canvas, metodologia adaptada pelo programa, também ajudou as startups a estruturarem seus objetivos e estratégias. O processo envolveu imersões culturais, mentorias com especialistas e contato direto com empresários, executivos e investidores europeus.
Durante a preparação, os participantes foram provocados a questionar paradigmas sobre inovação brasileira, desmistificando a ideia de que soluções industriais só podem vir de países desenvolvidos.
“O grande desafio da internacionalização não é só tecnologia, mas adaptação. No início do programa, muitos empreendedores chegam inseguros sobre suas chances no mercado alemão. Mas quando entendem o que já construíram e como podem comunicar isso de forma eficiente, a mentalidade muda completamente”, reforça Claudio Goldbach, idealizador do BiG2025 e especialista em inovação industrial.
Essa mudança de mentalidade é visível nos resultados. Desde sua primeira edição, o BiG já gerou mais de R$ 9 milhões em negócios para indtechs brasileiras e estabeleceu mais de 300 conexões estratégicas com empresas internacionais.
A revolução da indústria 4.0 passa pelo Brasil
Muitos ainda subestimam o potencial brasileiro no setor industrial. No entanto, para Goldbach, essa visão já está ultrapassada: “O Brasil desenvolveu um ecossistema de inovação aberta industrial extremamente maduro. Se eu encontrar um país com um sistema mais evoluído que o nosso, eu falo, mas até agora não encontrei”, afirma.
Essa evolução se reflete na diversidade de tecnologias desenvolvidas no país. Empresas como Digimet, Embeddo, Infinite Foundry e Melvin estão liderando a digitalização industrial com inteligência artificial, gêmeos digitais, IoT e automação de processos complexos.
“A Alemanha precisa de inovação para manter sua indústria forte. O Brasil tem essa inovação. Essa é a equação que o BiG2025 ajuda a resolver”, complementa Goldbach.
Para Elton Siqueira, diretor de inovação da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), a necessidade de internacionalização é cada vez mais evidente. O Brasil não apenas tem capacidade técnica para competir no cenário global, como também precisa expandir seu mercado para continuar crescendo: “Quando vejo um ex-aluno empreendendo e conseguindo levar sua tecnologia para o exterior, eu sei que estamos no caminho certo. O BiG2025 não é só um programa de internacionalização, é um movimento que impulsiona o crescimento do setor como um todo”, destaca Siqueira.
A missão alemã é apenas uma das etapas desse processo. Para muitos participantes, o maior desafio não está na tecnologia, mas na adaptação cultural e comercial para o novo mercado.
“A missão internacional é um marco, mas a verdadeira transformação acontece antes, no processo de preparação. Uma estratégia de internacionalização robusta exige que as empresas se conheçam profundamente e estejam prontas para os desafios da expansão”, explica o diretor da Fapes.
Indtechs na Alemanha: um novo capítulo na digitalização industrial
A terceira edição do BiG marca um novo estágio de maturidade para a inovação industrial brasileira. O programa não se limita a abrir portas, ele forma empresas preparadas para competir e crescer no cenário global.
Para as startups selecionadas, a missão na Alemanha será um divisor de águas. Durante 10 dias, elas terão encontros estratégicos com empresas, investidores e hubs de inovação, além de participarem da Hannover Messe, onde apresentarão suas soluções para um público altamente qualificado.
“A Hannover Messe não é só uma feira. É o maior palco da tecnologia industrial do mundo. É onde nascem as grandes inovações e onde o futuro da indústria 4.0 é moldado”, afirma Goldbach.
As expectativas são altas, mas os resultados já são evidentes. Startups que participaram das edições anteriores do BiG hoje já têm clientes internacionais, fecharam rodadas de investimento e ampliaram sua presença global.
No entanto, a missão do BiG2025 não termina em abril. O impacto do programa vai além da Alemanha, fortalecendo a posição do Brasil como um polo global de inovação industrial. “O Brasil sempre foi um país de inovação. Agora, estamos mostrando isso para o mundo”, finaliza Goldbach.
Um espaço seguro para aprender e crescer
Goldbach carrega consigo uma experiência pessoal marcante que moldou sua forma de ensinar e estruturar o BiG. Ele lembra como, em sua época escolar, o ambiente era hostil, permeado por preconceito, bullying e violência, o que dificultava o aprendizado genuíno.
“A escola era muito cruel. Quando você está nesse nível de cobrança e exigência, passa muito mais tempo se defendendo do que aprendendo. Você se fecha, você ataca como forma de se proteger. E isso impede o desenvolvimento real”, relembra.
No BiG, ele quis criar o oposto desse ambiente. Desde o primeiro dia do programa, ele estabelece um pacto com os participantes: ninguém será julgado, todos devem se apoiar e se respeitar, pois já existem desafios suficientes lá fora. “Não precisamos criar desafios aqui dentro”, afirma.
Essa abordagem criou um impacto profundo no programa. Os participantes passaram a colaborar mais, compartilhar experiências sem medo de julgamento e, ao final da jornada, sentiram que faziam parte de algo maior. “No último dia, no aeroporto, teve gente chorando ao se despedir. Mas não era só uma emoção passageira, era uma transformação real, um sentimento de pertencimento e evolução”, revela.
Humanização como chave para a internacionalização
Ao contrário do que muitos pensam, a internacionalização não é apenas um processo técnico, mas também um desafio humano. Startups são compostas por pessoas, e essas pessoas precisam estar preparadas não apenas para os desafios do mercado, mas também para se comunicarem, negociarem e construírem relações de confiança com parceiros internacionais.
Por isso, Goldbach reforça que a empatia e a humanização estão imbuídas na capacitação do BiG, ainda que não apareçam como um módulo específico. “Isso está em tudo, de forma horizontal. A gente precisa entender que negócios são feitos por pessoas, e se as pessoas não estiverem bem, a empresa também não estará”.
O impacto do BiG na formação de líderes globais
Com esse preparo, as indtechs participantes do BiG2025 chegam à missão internacional, nesta segunda-feira (31), com conhecimento aprofundado e ferramentas essenciais para expandir suas operações na Alemanha, fortalecendo a presença da tecnologia industrial brasileira no cenário global.
O grande legado do BiG não é apenas preparar startups para conquistar mercados internacionais, mas sim formar líderes globais que carreguem consigo valores como colaboração, respeito e empatia.
“Sim, a gente pode ser melhor. Sim, a gente pode fazer negócios de um jeito mais humano, mais eficiente e mais sustentável”, conclui Goldbach.
Com essa abordagem, o BiG não apenas impulsiona a internacionalização das startups brasileiras, mas também transforma a forma como esses empreendedores encaram o mercado e o mundo.
*Imagem de capa: Depositphotos.com
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