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Ociosidade da indústria e tendência de queda no consumo de aço ameaçam a sustentabilidade das siderúrgicas

Integração com a indústria de transformação, flexibilidade no uso de matérias-primas e Indústria 4.0 podem ser chaves para o futuro do setor

Por: Assessoria de Imprensa      12/10/2019 

Os desafios impostos à indústria siderúrgica no Brasil e no mundo não são pequenos. Excesso de capacidade instalada e de barreiras comerciais, redução do consumo aparente e o impacto da China no mercado global são algumas das ameaças que põem em risco a competitividade e a sobrevivência das empresas. Mas, apesar do cenário difícil, é possível minimizar essa situação.

“Há duas opções. Ou sentamos, choramos e desistimos, ou partimos para ação, seja individualmente em nossas plantas, seja setorialmente”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil. Lopes participou da plenária “Os desafios da indústria siderúrgica”, realizada no dia 2 de outubro, em São Paulo. O evento foi uma das atrações da ABM WEEK 2019 e contou com a coordenação de Francisco Coutinho Dornelas, diretor da regional da ABM no Espírito Santo, e de Débora Oliveira, diretora de assuntos corporativos do Instituto Aço Brasil.

A uma plateia cheia, Marco Polo revelou dois dados alarmantes. O primeiro deles é a expectativa de crescimento da produção de aço no Brasil inferior a 0,4%. Também é preocupante a ociosidade da capacidade instalada. Hoje a siderurgia brasileira opera com apenas 64% de sua carga total. “Para agravar ainda mais a situação, após a tragédia de Brumadinho, o minério de ferro teve um reajuste e exigiu que as empresas fizessem um verdadeiro malabarismo logístico para manterem-se abastecidas”, comentou Lopes.

Wieland Gurlit, líder na área de metais e mineração para a América Latina da McKinsey & Company, também apresentou um cenário preocupante baseado em estudos realizados pela consultoria.

“Fragilidades na cadeia de abastecimento de carvão metalúrgico e de minério de ferro, necessidade de incorporar tecnologias alternativas para a produção de aço para atender novos padrões de emissões, além de disrupções na demanda global são questões com as quais as indústrias precisam lidar”, citou o consultor, segundo o qual, “o crescimento da demanda de aço tende a diminuir mesmo se houver maior crescimento econômico”.


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Gurlit pontuou que as empresas brasileiras têm desafios adicionais, como o excesso de capacidade estrutural e a baixa produtividade da mão de obra. “Em comparação à União Europeia e aos Estados Unidos, o Brasil apresenta um gap importante de produtividade, sobretudo na área de apoio à produção e em serviços terceirizados”, disse o consultor.

Mas é possível, e recomendável, fortalecer as empresas nesse contexto tão adverso. O consultor da McKinsey & Company sugere três medidas:

1) Fortalecer a integração da cadeia de valor, uma vez que a siderurgia ganha ou perde junto com a indústria de transformação;

2) Adotar, na medida do possível, mais flexibilidade no uso de matérias-primas. Na Europa, por exemplo, as empresas estão apostando na ampliação do uso da sucata;

3) Buscar novas rotas de produção. “Vemos no futuro poucas oportunidades para usinas integradas. Se houver crescimento de capacidade instalada, ele vai se dar em usinas que utilizam fornos elétricos ou novas tecnologias alternativas”, disse Gurlit, que aposta no desenvolvimento de novos métodos de produção sustentável e tecnologias lean.

O professor Germano Mendes de Paula, do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia, também vê na adoção de novas tecnologias, em especial na Indústria 4.0, uma saída para a crise do setor siderúrgico. Segundo ele, diante do excesso de capacidade instalada global e das perspectivas de crescimento muito tímidas, resta à indústria modernizar as plantas já existentes e fechar as unidades que estão defasadas.

‘Quando observamos os investimentos em Indústria 4.0, percebemos que eles são relativamente baixos e o payback é muito rápido”, diz o professor, citando como exemplo a norte-americana Big River Steel. Com 50 mil sensores espalhados em sua planta, a usina é uma mini-mill de aços planos que entrou em operação em janeiro de 2017 já concebida na geração 4.0.

"Os resultados que a Big River vem tendo com relação à produtividade e a lucro por empregado chamam a atenção. Nao à toa, ela acabou de ser parcialmente adquirida pela United States Steel Corporation por 700 milhões de dólares", comentou Germano.

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