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A indústria 4.0 não começa na linha de produção

A quarta revolução industrial está baseada na automação, interconectividade, dados em tempo real, inteligência artificial, máquinas que aprendem sozinhas, internet das coisas e toda tecnologia à disposição para criar sistemas integrados. No entanto, antes de trazer robos para a linha de produção é preciso entender para onde a industria vai e como a empresa vai se situar nesse cenário, por essa razão o Planejamento Estratégico e Financeiro é o passo que antecede essa migração inevitável.

Por: Carlos A Dariani      22/08/2019

Estamos no meio de um processo de transformação fantástico e que vai marcar este século, a indústria 4.0. Este tema está em todas as publicações, seminários, feiras e embora tenha toda essa abrangência de comunicação e todos já tenham ouvido falar, parece não ter sido bem entendida.

A primeira revolução foi na Inglaterra e começou em 1760, substituindo processos artesanais por máquinas movidas a vapor. A segunda foi um aprimoramento da primeira com a substituição da energia a vapor pela eletricidade, incorporando técnicas de linhas de produção como o fordismo e durou quase 100 anos, de 1850 a 1945. A terceira transformou a indústria com a utilização intensiva tecno-cientifica, a eletrônica, a robótica, a física e a ciência de forma geral permitiu um salto espetacular no último século.

A indústria 4.0 está fortemente baseada na automação, interconectividade, dados em tempo real, inteligência artificial, máquinas que aprendem sozinhas, internet das coisas e toda tecnologia à disposição para criar sistemas integrados. Essa quarta revolução industrial está aperfeiçoando a última revolução e como as anteriores ela é disruptiva (seja lá como se classifica isso), inteligente e tecnológica.

Um exemplo é o Alibaba (market place de e-commerce) que tem o maior "depósito inteligente" na China. São 60 robôs, que se recarregam sozinhos quando a bateria está fraca, recebem os pedidos por Wi-Fi, buscam as mercadorias e as levam até a área de embalagem onde os trabalhadores fazem a organização e as despacham para todo o mundo.

Essa integração tecnológica é um dos elementos da indústria 4.0, mas é preciso se preparar para ela. A implantação dos robôs não aconteceu porque um vendedor de robôs bateu à porta do Alibaba e ofereceu a solução ideal para seu depósito e o presidente da empresa disse:“quero 60 desses, por favor”.


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A empresa tinha identificado em seu planejamento que a movimentação de mercadorias era estratégica para sua operação ganhar produtividade.

Embora apareça como uma emergência, afinal toda comunicação insiste em dizer que é necessário migrar para indústria 4.0 e tem de ser agora, antes é preciso entender como aplicar na sua indústria, seu setor, seu mercado.  O maior problema é que ela não é, nem tem, um modelo. Não é possível chamar o melhor engenheiro de produção e encomendar a migração de sua indústria para 4.0 , ele não vai poder ajudar além de recomendar algumas desejadas modernizações na produção.

A transformação para a indústria 4.0 começa na sala de reunião, lá é que deve ser elaborado o planejamento estratégico, financeiro e operacional que identificará como deve estar o setor em que atua, nos próximos 5, 10 ou 20 anos. Conhecendo e desenhando o futuro e um cenário, é necessário fazer um plano de ação para chegar lá, apontando bem as ameaças e oportunidades no caminho.

O termo indústria 4.0  embora tenha origem na manufatura, nas fábricas, não se restringe somente a elas. Quando a terceira revolução industrial introduziu as novas tecnologias na produção, elas foram mimetizadas (ou vice-versa) na medicina, na agricultura, no cinema, nos serviços, em tudo. O mesmo acontece agora, não irá existir uma indústria 4.0 e bancos 3.0, percebam as fintechs, os bancos digitais, o mesmo com setor de serviços, saúde, no campo, em todos os setores, mas não podemos esquecer que essas inovações ainda não estão prontas, elas estão surgindo, se adaptando e melhorando

Introduzir robôs na linha de produção é uma inovação sem dúvida, mas não transforma a indústria em 4.0, esse é só um elemento. Embora o robô possa fazer as soldas com rapidez e qualidade superior, de nada adianta se ele não produzir as peças que devem ser faturadas e expedidas hoje e se não tiver comunicação entre vendas, produção, financeiro e logística.

Vamos considerar um caso nacional, o Governo pretende leiloar a banda 5G no próximo ano, isso significa que a velocidade de transmissão de dados será muito mais rápida. As empresas de telecomunicações que utilizam cabos e fibra óptica para fazer chegar às residências a TV a cabo já estão preocupadas pois, quando funcionar o 5G, os usuários poderão acessar os canais pelo Wi-Fi, não precisarão mais de cabos ou fibras. Poderão comprar a programação diretamente com a HBO, Globonews e assim por diante. Podemos argumentar que isso não é “bem assim”, pois somente em algumas concentrações urbanas há um bom sinal de Wi-Fi e há antenas suficientes para atender à demanda nesta velocidade, e isso é verdade. No entanto essas mesmas concentrações urbanas respondem pelo maior volume de assinantes.

Para as empresas de telecomunicações, o avanço tecnológico irá comprometer seu modelo de negócio, elas certamente já se planejaram para essa mudança que deve ocorrer em alguns anos. Entenderam como isso poderá afetar seu negócio, seu faturamento, como elas poderão participar do novo modelo, como isso vai impactar sua rentabilidade e certamente estão se preparando para isso.

Essa mudança tecnológica poderá afetar também a indústria de cabos e fibras ópticas, pois seriam necessários menos cabos e fibras, as empresas de distribuição elétrica, que alugam seus postes para a passagem destes cabos, também seriam afetadas. Considerando que há menos cabos e fibras as teles iriam alugar menos espaço nos postes.

Podemos argumentar que não é “bem assim” que isso vai demorar mais alguns anos, isso também é verdade. Mas também é verdade que será inevitável.

Por essa razão o planejamento estratégico, financeiro e operacional é tão importante, pois aquelas empresas que saírem na frente, se prepararem com antecedência, implementarem planos adequados à sua capacidade de gerir mudanças, sua capacidade financeira e estruturados para o desenvolvimento de seu mercado terão uma vantagem enorme em relação àquelas que esperaram a mudança.

Desenhar e planejar o futuro é o primeiro passo para a indústria 4.0 e isso abrirá oportunidades de toda ordem, pois nos países desenvolvidos esse processo está um pouco mais avançado e é possível exportar para eles esse futuro enquanto a demanda não chega aqui.

Não espere que alguém apresente um modelo pronto e acabado de transformação para a indústria 4.0, pois ele não existe e terá de ser construído. Isso não significa em absoluto descontinuar a forma nem os produtos que as indústrias fazem hoje, mas desenvolver um plano de médio prazo que resulte em muita produtividade com menor custo e produtos com mais tecnologia ou qualidade.

Esse processo começa com saber aonde ir, planejar como chegar lá e o que é preciso fazer nessa trajetória, fará toda a diferença, pois a indústria 4.0, diferente do que a maioria pensa começa na sala de reunião e não na linha de produção.

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Carlos A Dariani

Economista, Diretor Executivo da Moneyus Consultoria Financeira especializada em planejamento financeiro, planejamento estratégico, business plan e valuation