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Indústria 4.0 é um caminho sem volta

Por: Jefferson Klein, de Hannover via Jornal do Comércio      02/05/2018 

A otimização de procedimentos, com redução de perdas e aumento da automação, ações que estão dentro da ideia da Indústria 4.0, é uma tendência inevitável. Essa foi a impressão deixada na missão de empresários do Brasil pela Feira de Tecnologia Industrial de Hannover, encerrada nessa sexta-feira. Os participantes do grupo pretendem agora aproveitar da melhor forma possível os ensinamentos acumulados na Alemanha. 

O diretor da Gomasul Borrachas (de Bento Gonçalves, que produz peças técnicas de borrachas) Gilson Rigo ressalta que a Feira de Hannover é algo gigantesco, que apresenta muitas novidades, para diversos segmentos, especialmente na parte de automação. "A impressão que tenho é que é um caminho inevitável, que a indústria brasileira não poderá adiar por muito tempo para atingir um nível de integração de sistemas e processos para ser competitiva", aponta. 

Rigo considera que as companhias brasileiras estão um pouco aquém do estágio em que poderiam estar, mas é impossível não seguir nessa direção. No caso específico da Gomasul, o empresário pensa em investir na integração e sensoriamento de processos para ser possível uma programação de produção mais lógica, evitando ter que agir de forma mais reativa. "Atualmente, esperamos acontecer o problema para fazer a reprogramação", explica. 

O diretor da Teknocientifica Instrumentação (empresa de Esteio, que atua com equipamentos de medição para a área de laticínios e análises para outros segmentos) Maurício Beilfuss considera que o encontro em Hannover dita as regras no que diz respeito à tecnologia. "O principal objetivo de ir ao evento é ver o que está vindo pela frente e tentar se adaptar ao mercado", pondera. Beilfuss vê oportunidades de aplicações do que viu na feira na Teknocientífica na parte de sensoriamento e manutenção remota, tanto preventiva como corretivamente. 


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Por sua vez, o diretor da RMR Plásticos (de Caxias do Sul, uma transformadora desse setor) Roque Renato Molinar diz que o evento atendeu às suas expectativas. O destaque, segundo o empresário, foram as inovações no processo de automação, reforçando o conceito de Indústria 4.0. "Dentro do que observei, já estou fazendo planos, a questão é dividir os recursos para investir na empresa", comenta. Molinar detalha que o começo da implantação da Indústria 4.0 é justamente colher dados mais apurados da operação e desempenho das máquinas usadas na fábrica, fazendo levantamentos, quantificações e histórico. O diretor da RMR almeja, através de novos sensores, saber com maior exatidão sobre paradas de equipamentos, controle de temperatura e pressão etc. Molinar acredita que é importante segmentar as implementações que devem ser realizadas devido ao elevado investimento necessário para modernizar a operação. 

O consultor e gerente de projetos da Fersiltec automação industrial (de Timbó, em Santa Catarina, que trabalha com manufatura avançada), Jean Carlos Ferrari, sustenta que, para a Indústria 4.0 progredir no Brasil, um empecilho que precisa ser vencido é a falta de conhecimento sobre o assunto por boa parte do empresariado nacional. Ferrari classifica a Feira de Hannover como uma excelente ferramenta para difundir essa prática. O gerente de projetos da Fersiltec cita entre as atrações apresentadas no evento o robô colaborativo. "Essa solução vai ser uma grande parceira das indústrias no sentido de substituir postos de alto risco operacional", antecipa. 

Com o robô colaborativo, funcionários que estão expostos hoje a riscos ou a atividades insalubres poderão ser colocados em pontos operacionais que, através de apenas alguns botões, executarão o serviço sem maiores temeridades. O equipamento, reforça Ferrari, contribui para o atendimento de exigências feitas pela Norma Regulamentadora (NR) nº 12, que diz respeito à segurança do trabalho. 

Volkswagen quer vender 1 milhão de veículos elétricos até 2025; China é mercado estratégico 

Implementação da automação e outros processos são essenciais para ampliar a
competitividade nacional. Imagem: Jefferson Klein

A frase de que a "Idade da Pedra não acabou por causa de falta de pedra", do xeque saudita Ahmed Yamani, é tida como um aviso para o uso da gasolina e do óleo diesel em relação ao petróleo. E, pela intensificação da utilização de veículos elétricos, a era do combustível fóssil realmente pode terminar não por causa do esgotamento das jazidas, mas sim pela crescente preocupação ambiental. Durante a visita da delegação de empresários brasileiros à fábrica da Volkswagen, em Wolfsburg, foi mencionado que a meta do grupo é comercializar em torno de 1 milhão de carros movidos a eletricidade no mercado global até 2025, sendo a China um país estratégico. 

A unidade da cidade alemã iniciou as atividades em 1938 e foi bombardeada durante a segunda guerra mundial. Ainda é possível perceber buracos de projéteis dentro da estrutura histórica, que é tombada. Esse cenário contrasta com a alta tecnologia empregada dentro da planta, que possui em torno de 5 mil robôs. A fábrica de Wolfsburg é a principal do grupo, na qual trabalham cerca de 60 mil pessoas, e um carro é produzido a cada 18 segundos. 

Antes de conhecer a fábrica da Volkswagen, o grupo do Brasil já tinha ido visitar as instalações da Mercedez-Bens em Bremen. O diretor da TDS Sistema de Informação (companhia ligada a soluções em gestão, de Bento Gonçalves) Fernando Toneser salienta que todo mundo quer artigos customizados e que a linha de produção dessa montadora alemã, que cria carros diferenciados, é uma prova de que isso é viável. "A customização em massa é possível", sentencia. Toneser enfatiza que essa questão passa pela ideia de Indústria 4.0, com alto grau de automação, para evitar os custos muito elevados. "Viemos à Feira de Hannover para entender, na prática, o que as pessoas estão teorizando há algum tempo", ressalta. 

O sócio-diretor da NBN Tecnologia (de Porto Alegre, que faz sistemas de automação de processos para curtumes e máquinas de dosagem automáticas) André Luiz Tessele Nodari também aproveitou a feira. "Cada vez mais, a Industria 4.0 está se desenvolvendo, e a minha impressão é que está se acreditando nisso", afirma. Durante a passagem na Alemanha, Nodari fez um rápido curso sobre computação em nuvem no estande da Amazon e pretende utilizar esse conhecimento em suas atividades. 

Já o diretor da NDS Engenharia (companhia que trabalha com manutenção de equipamentos de média e alta tensão, com clientes no segmento de energia) André Tramontini foi ao evento na tentativa de buscar parcerias. O empresário diz que sai do encontro com algumas promessas. "Valeu a viagem", comemora. Uma novidade que chamou a atenção de Tramontini foi um óculos que opera com realidade virtual e orienta o serviço do funcionário que o usa. 

O diretor técnico da Tecsistel Soluções em Tecnologia Industrial (de Novo Hamburgo, da área de automação), Fabiano Linck, diz que a feira serviu para mostrar que o Brasil está no caminho certo, mas ainda precisa de muito esforço. Ele argumenta que, embora algumas tecnologias mostradas em Hannover ainda estejam um pouco distantes da realidade brasileira, com algum trabalho de engenharia, é possível aproveitar essas experiências. "A ideia é, vendo o que foi apresentado na Alemanha, tentar adaptar, da melhor forma possível, esse conhecimento." Linck argumenta que a Indústria 4.0 consiste na coleta de dados e que, com essas informações, ajuda o empreendedor a melhorar o processo produtivo, reduzindo custos, tempo e perda de material. 

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