Cresce procura de montadoras por recursos do BNDES para inovação

Destino de 95% dos recursos do BNDES Proengenharia é o setor automotivo

A forte concorrência com carros importados mudou a estratégia das montadoras em seus pedidos de empréstimos junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Antes mais focados em expansão de produção, agora os empréstimos junto ao banco são para modernização de modelos, que passam a ser feitos sob medida para o mercado brasileiro, na análise do gerente do Departamento de Indústria Pesada do banco, Marcos Rossi. "A concorrência com importados só tende a aumentar. Para competir, as montadoras têm investido mais em inovação", avaliou.

 
Este ímpeto por investir em inovação é perceptível no desempenho do BNDES Proengenharia, programa de financiamento do banco voltado para projetos de engenharia em bens de capital, Defesa, Aeronáutica, entre outras áreas, e cujos desembolsos devem dobrar em 2012 contra o ano passado, para mais de R$ 1 bilhão, informou Rossi. Em torno de 95% das liberações desta linha são para o setor automotivo. No ano passado, os desembolsos do programa totalizaram R$ 531 milhões, 18% acima de 2010. Este aumento ocorreu em meio a um nítido enfraquecimento dos desembolsos totais para automotivos. No ano passado, houve queda 26% nas liberações para o setor contra 2010, para R$ 4,8 bilhões.
 
A primeira montadora com recursos aprovados dentro do BNDES Proengenharia este ano foi a Renault, com R$ 373,5 milhões para novos produtos, adaptação de veículos ao clima e às condições de ruas e estradas do país, além de investimentos em design. Outra montadora que procurou recursos do BNDES para produzir modelos mais adaptados ao mercado no país foi a Hyundai Motor Brasil. No ano passado, o BNDES aprovou R$ 307,4 milhões à Hyundai para unidade industrial em Piracicaba (SP) destinada à produção de veículos do "Projeto HB", desenvolvidos para os brasileiros.
 
O valor total da fábrica é de US$ 600 milhões, segundo informou o presidente da Hyundai, Seong-Bae Kim. Ele explicou que, nos últimos três anos, a empresa construiu unidades industriais em países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China). "Acreditamos que esses mercados são os que mais crescerão nos próximos anos", disse, ressaltando o mercado brasileiro. "O Brasil tem um potencial de crescimento enorme e está se tornando uma das maiores forças econômicas mundiais graças ao seu desenvolvimento sustentável e ao grande fluxo de investimentos estrangeiros", acrescentou.
 
Além da criação de modelos novos, adaptações são feitas, principalmente em carros populares, explicou o consultor do Centro de Estudos Automotivos (CEA) e ex-presidente da Ford Brasil Luiz Carlos Mello. "Na prática, o mercado doméstico brasileiro foi escolhido pelas montadoras como o berço dos carros utilitários básicos", afirmou.
 
A mudança de foco dos pedidos de empréstimos das montadoras chega em um momento em que o setor amarga dados preocupantes, tanto em produção quanto em vendas, ambas prejudicadas pela atratividade dos veículos importados.
 
Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a pedido do Valor mostra queda de 4,2% na produção de veículos automotores acumulada em 12 meses até fevereiro, a pior em dois anos. Automóveis, e veículos leves representam mais de 50% deste segmento e derrubaram o resultado, na análise do pesquisador do departamento de indústria do instituto, Fernando Abritta. "Veículos automotores é o segundo item de maior peso dentro da indústria da transformação, atrás apenas de alimentos ", salientou Abritta. "As montadoras estão com excesso de estoque", avaliou Brita.
 
De acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a participação de importados nas vendas totais de veículos no pais saltou de 18,8% para 23,6% de 2010 para 2011.
 
Por Alessandra Saraiva / Valor Econômico 

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