Empresários reforçam repúdio ao corte de recursos em CT&I no País

Diante de desafios mundiais que se apresentam para o desenvolvimento de uma economia verde, o presidente do Conselho Superior de Inovação e Competitividade (Conic), órgão da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Rodrigo Costa da Rocha Loures, reclamou do contingenciamento de recursos para ciência, tecnologia e inovação este ano, reforçando a opinião de cientistas sobre o corte de recursos em áreas estratégicas para o desenvolvimento do País.

"Para ter economia verde é preciso aumentar os recursos, e não cortar os recursos. Isso está passando desapercebido pelo governo", disse Loures, fazendo um questionamento ao embaixador Luiz Alberto Figueiredo de Machado e secretário-executivo da Comissão Nacional para Rio+20, após a palestra do embaixador em evento patrocinado e organizado pela Fapesp, em São Paulo, batizado de 'Biota-Bioen-Climate Change Joint Workshop: Science and Policy for a Greener Economy in the context of Rio+20'.
 
Para Loures, o corte no orçamento de ciência, tecnologia e inovação se repente justamente em um momento em que avançam as cobranças pelo desenvolvimento sustentável em todos os setores. "Nós empresários temos de fazer da inovação um pilar de obrigatoriedade", disse o dirigente do Conic.
 
Do lado da plateia, bem próximo ao palestrante, Loures ilustrou a opinião do cientista indiano Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de que a ciência e os alertas dados pelos cientistas não estão no centro das negociações climáticas. Nesse caso, Loures citou a entrevista do pesquisador concedida ao Estado de São Paulo e publicada no início de dezembro último, que diz que a ciência foi deixada de lado na 17.ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP-17.
 
Outro lado
Em defesa do governo, o embaixador do Ministério de Relações Exteriores disse que em uma demonstração de reconhecimento dessa área para o desenvolvimento do País, o termo Inovação foi incluído na sigla do Ministério de Ciência e Tecnologia (MTC) no ano passado. "Não há dúvida de que a maior preocupação da Fiesp sobre o termo inovação e conhecimento cientifico é compartilhada pela sociedade e pelo governo como um todo", respondeu o embaixador.
 
Machado discorda de que a Ciência tenha sido esquecida na COP. "Porque se não fosse a ciência não teríamos chegado onde chegamos", declarou.
 
Reiterando as críticas ao contingenciamento de recursos nas áreas de ciência, tecnologia e inovação, o presidente do Conic disse que a ciência no Brasil, igualmente em outros países, não é uma prioridade.
 
"No Brasil não há também prioridade para a ciência, considerando o exemplo do corte no orçamento justamente nos recursos destinados à pesquisa e ao desenvolvimento", disse ele, para emendar: "Isso é um desestímulo ao mundo empresarial, aos pesquisadores e essa iniciativa não corresponde ao discurso de que o Brasil está voltado para a economia verde e para o desenvolvimento sustentável, uma vez que sabidamente a área de ciência e inovação é o ponto central para o desenvolvimento geral e para o desenvolvimento sustentável".
 
Segundo o presidente do Conic, o corte nos recursos do MCTI é uma prática histórica. "Essa é uma queixa que se repete em todos os anos, desde que foram criados os fundos setoriais. Isso é crônico. O que evidência que não existe vontade política no governo federal a respeito desse termo. Ou, então, a ciência e tecnologia não têm uma articulação suficiente forte para fazer valer as suas necessidades", declarou.
 
Segundo o presidente do Conic, o contingenciamento do governo nas áreas de ciência, tecnologia e inovação deve comprometer o alvo do governo federal de estimular os investimentos do setor privado e aumentar os investimentos desse setor na participação do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 0,5% atuais para algo em torno de  0,9% do PIB até 2014.
 
"Essa decisão interfere nisso porque a competitividade não é das empresas, é do País. Na medida em que a parte pública não corresponde às necessidades, pode até atrapalhar. É o caso da política cambial [valorização excessiva do real] que tira a competitividade [das empresas] e estimula a desindustrialização que ocorre há mais de 15 anos e agonizou-se nos últimos anos".
 


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