A manufatura aditiva metálica, ou impressão 3D de metais, vem transformando setores estratégicos no mundo, como o aeroespacial, a saúde e o automotivo. Mas qual é o cenário dessa tecnologia aqui no Brasil? Quais são os principais desafios e as oportunidades que o país enfrenta para avançar nessa área?
Já abordei esse tema de forma mais geral, destacando pontos importantes sobre as possibilidades e obstáculos da manufatura aditiva metálica (veja aqui). Agora, neste artigo, trago um panorama mais aprofundado baseado no estudo do Observatório Nacional da Indústria, com dados, tendências e projeções específicas para o mercado brasileiro. Além disso, gravei um vídeo explicativo que detalha esses pontos (está disponível no meu canal do YouTube para quem quiser conferir).
O potencial da manufatura aditiva metálica
A manufatura aditiva metálica permite a fabricação de peças com características muito difíceis (e, em alguns casos, impossíveis) de serem obtidas por processos tradicionais. Entre os principais benefícios, destacam-se:
- Peças mais leves e resistentes: a possibilidade de criar estruturas complexas e com geometria otimizada gera componentes com excelente desempenho mecânico e menor peso.
- Designs complexos e personalizados: a tecnologia permite fabricar peças com formas que seriam impossíveis ou muito difíceis para métodos convencionais, além de possibilitar alta personalização.
- Redução de desperdício: o processo gera menos resíduos, pois utiliza somente o material necessário para a peça.
- Agilidade no lançamento de produtos: com o tempo reduzido para prototipagem e produção, é possível acelerar o desenvolvimento de novos produtos.
Exemplos práticos incluem componentes de turbinas no setor aeroespacial, implantes médicos personalizados e ferramentas complexas para processos industriais.
Crescimento global e brasileiro da impressão 3D metálica
O mercado global de manufatura aditiva metálica vem apresentando um crescimento exponencial. Dados apontam que o volume de metais produzidos via impressão 3D saltou de cerca de 1.800 toneladas em 2019 para uma projeção superior a 10.000 toneladas em 2027, com uma taxa média de crescimento anual em volume de 24% e receita com crescimento anual próximo a 22%.
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Os líderes mundiais desse mercado são China, Estados Unidos e Japão, com a Europa destacando-se em receita, e a América do Norte em volume.
Já o Brasil, apesar de ainda pequeno e com crescimento mais lento, apresenta uma taxa de crescimento estimada em torno de 14,4% em volume e 11,6% em receita, segundo o mesmo estudo. Isso indica que, embora atrás das grandes potências, o país caminha para uma adoção crescente da manufatura aditiva metálica.
Um dado interessante do IBGE destaca que cerca de 19,2% das novas tecnologias implementadas na indústria brasileira envolvem manufatura aditiva, mostrando que a tecnologia já tem seu espaço.
Setores que lideram a adoção da tecnologia
No cenário internacional, três setores se destacam na aplicação da manufatura aditiva metálica:
- Aeroespacial: é o maior consumidor em volume e receita, graças à necessidade de peças leves, resistentes e com geometria complexa, principalmente para turbinas e estruturas aeronáuticas.
- Saúde: utiliza a tecnologia para a fabricação de implantes personalizados, próteses e instrumentos médicos, permitindo um alto grau de customização e melhor adaptação ao paciente.
- Automotivo: Emprega a manufatura aditiva para a criação de componentes otimizados, peças de reposição e protótipos rápidos para testes no desenvolvimento de novos produtos.
No Brasil, esses setores começam a adotar a tecnologia, mas também outros segmentos industriais têm potencial para crescer com essa inovação.
Principais impulsionadores no Brasil
O crescimento da manufatura aditiva metálica no Brasil está sendo puxado principalmente por centros de pesquisa, universidades e grandes empresas. Destacam-se instituições como o ISI Laser, Senai Cimatec e o CTI Renato Archer, que têm sido protagonistas no desenvolvimento da tecnologia.
Grandes empresas nacionais também têm dado sinais positivos. Um exemplo recente é a Petrobras, que vem aumentando o uso da manufatura aditiva, tanto para peças poliméricas quanto metálicas, como parte de sua estratégia de inovação e eficiência operacional.
Esses atores são essenciais para impulsionar a tecnologia no país, aproximando pesquisa e indústria e fomentando o desenvolvimento local.
Desafios a serem superados no Brasil
Apesar das oportunidades, o país enfrenta desafios importantes para ampliar o uso da manufatura aditiva metálica:
- Alto custo de investimento: equipamentos e materiais, especialmente pós-metálicos de alta qualidade, ainda demandam investimentos elevados, embora os preços estejam gradativamente caindo.
- Infraestrutura necessária: não basta apenas a impressora 3D, é preciso laboratórios para controle de qualidade, testes, validação, além de sistemas de segurança e softwares avançados para modelagem, simulação e controle.
- Falta de profissionais especializados: há uma demanda crescente por profissionais qualificados para operar equipamentos, realizar pós-processamento, desenvolver materiais e otimizar processos.
- Acesso limitado a tecnologias de ponta: a presença restrita de fornecedores e representantes no Brasil dificulta o acesso a equipamentos e soluções tecnológicas avançadas.
- Regulamentação e certificação: o avanço das normas precisa acompanhar a evolução da tecnologia para garantir a segurança e a qualidade das peças fabricadas.
- Conhecimento e conscientização: muitas indústrias ainda desconhecem o potencial da manufatura aditiva metálica para otimizar produtos, reduzir custos e inovar.
Oportunidades e perspectivas futuras
O futuro da manufatura aditiva metálica no Brasil é promissor, com expectativas de evolução em curto, médio e longo prazo:
- Curto prazo (1 a 2 anos): adoção crescente em setores de alto valor agregado, como aeroespacial, saúde e óleo e gás. Formação e capacitação de especialistas para implementação e operação da tecnologia.
- Médio prazo (3 a 5 anos): redução de custos de equipamentos e materiais, expansão para novos setores, desenvolvimento de processos e materiais locais, e maior presença de fornecedores no país.
- Longo prazo (5 a 10 anos): integração completa da manufatura aditiva na cadeia produtiva brasileira, democratização do acesso à tecnologia e liderança em nichos específicos de mercado.
Para que isso aconteça, é fundamental investir em formação técnica, ampliar parcerias entre indústria, academia e centros de pesquisa, criar políticas públicas de incentivo e financiamento, e promover casos de sucesso que evidenciem o valor da manufatura aditiva metálica para a indústria nacional.
Conclusão
A manufatura aditiva metálica é uma tecnologia transformadora com um enorme potencial para a indústria brasileira. Apesar dos desafios existentes, o crescimento gradual e o empenho de centros de pesquisa, universidades e empresas indicam que o Brasil está no caminho certo para consolidar essa inovação no cenário industrial.
O investimento em capacitação, infraestrutura e políticas de incentivo será decisivo para que o país aproveite todas as oportunidades que a impressão 3D de metais pode proporcionar.
*Imagem de capa: Depositphotos.com
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