Se você quer fazer parte ou levar sua empresa ao seleto grupo de profissionais e corporações que conseguem alta performance na usinagem continue a leitura. Caso contrário, nem desperdice seu tempo.
Em 2021 a Indústria 4.0 completa 10 anos [1, 2] e desde o início naturalmente fui traçando paralelos com a minha área de atuação, o Gerenciamento de Ferramentas de Corte, que assim como a Indústria 4.0 também foi criado a partir de um conceito na metade dos anos 80 [3]. Simplifiquei os paralelos a três, o primeiro em relação ao entendimento e aplicação prática, o segundo em relação a ideia de digitalização e conectividade e, terceiro, a importância das pessoas para implementar com sucesso.
A Indústria 4.0 foi apresentada ao grande público na feira de Hannover na Alemanha em 2011 [4]. Porém, o conceito começou a surgir em 2006 quando o governo alemão lançou a High Tech Strategy (HTS), um programa que abrangia todos os ministérios com o objetivo de fortalecer e assegurar a posição do país como potência industrial no cenário global intensificando a pesquisa e inovação. Precisamente em 2010, na High-Tech Strategy 2020 (HTS 2020), quando a Indústria 4.0 foi selecionada para receber suporte financeiro com o objetivo de desenvolver soluções inovadoras [5].
Após uma década, a percepção que tenho no segmento metalmecânico brasileiro é que pouca coisa mudou efetivamente na maioria das empresas. São raríssimos os exemplos de fábricas com a aplicação em toda plenitude e extensão deste conceito. Algumas estão na fase de avaliação, aprendizado e implementação de processos e tecnologias habilitadoras da Indústria 4.0 em projetos pilotos. Porém, mais da metade não tem uma ideia clara do que se trata e não deu passo algum neste sentido. Infelizmente, esta percepção está corroborada pela pesquisa publicada recentemente pelo SENAI [6].
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Falo da realidade que conheço e acompanho há mais de 20 anos em trabalhos realizados em centenas de empresas tanto no Brasil como no exterior. Percebo que as empresas no geral estão tomando ações isoladas, implementando uma ou outra tecnologia habilitadora em algum ponto da fábrica, afirmando - em alguns casos erroneamente (perigosamente) - que estão na Indústria 4.0. Este é o primeiro paralelo entre
No Brasil, no final dos anos 90, início dos anos 2000, houve uma situação semelhante na indústria metalmecânica com relação ao tema Gerenciamento de Ferramentas, que estava no centro das atenções naquele momento. Um fabricante de ferramentas trouxe para o Brasil uma quantidade significativa de armários eletrônicos dispensadores de ferramentas, comumente chamados de vending machines. Estes equipamentos foram promovidos, ou erroneamente entendidos por falta de embasamento teórico, como a solução de Gerenciamento de Ferramentas. Isso não tira o mérito desta solução tecnológica que quando corretamente aplicada gera resultados expressivos de redução de custos e aumento de produtividade para a usinagem [7, 8].
Considero uma ação de marketing bem-sucedida porque até hoje o equipamento deste fabricante de ferramentas é sinônimo de armário eletrônico, assim como, para os mais experientes, Gillette é de lâmina de barbear. No entanto, sob o ponto de vista de negócios é questionável. Estive em várias empresas que, orgulhosamente mostravam o equipamento e afirmavam que tinham o Gerenciamento de Ferramentas implantado em sua fábrica assim como fazem algumas empresas atualmente com relação à Indústria 4.0.
Infelizmente estas empresas e profissionais estavam errados e praticamente todos os projetos fracassaram e estão inativos hoje em dia. Acredito que poderiam ter tido um final diferente se estivessem cientes que o seu projeto com o armário eletrônico era apenas uma parte de algo maior dentro do conceito de Gerenciamento Integrado de Ferramentas de Corte, ou mais recentemente, Gerenciamento do Ciclo de Vida de Ferramentas de Corte (TLM) [9]. Prefiro animar as pessoas, mas neste caso, como alguém com algum conhecimento na área, não poderia deixar de fazer uma pergunta simples, mas que acabava sendo um balde de água fria: “Imagino que as ferramentas que estão no armário eletrônico estão sob controle, correto? Mas como está o controle das demais ferramentas armazenadas fora da máquina? Nove entre dez respondiam: “Estão como sempre estiveram, sem controle”.
Desconfio que esta situação esteja acontecendo ou possa acontecer com a implementação da Indústria 4.0 no país. É muito simples confirmar esta hipótese. É só fazer uma pergunta semelhante aos que afirmam estar na Indústria 4.0: "E os demais pontos da fábrica? Continuam na Indústria 2.0, 3.0, deixaram de existir, foram desativados ou simplesmente 'varridos para debaixo do tapete'"?
A segunda correlação entre os conceitos surgiu à medida em que fui conhecendo o tema, pela primeira vez durante visita a EMO em 2011, e depois por meio de artigos, relatórios técnicos, reportagens, participando de seminários (em instituições como CCM-ITA e empresas como Siemens), em discussões na Vertical Manufatura da ACATE e colaborando como especialista convidado em workshops como Imersão 4.0 e o da Força-Tarefa de Manufatura Avançada - liderada pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e o Ministério da Ciência Tecnologia, Inovações e Comunicações [10].
Para mim está claro que o Gerenciamento de Ferramentas de Corte está alinhado com as práticas e conceitos da Indústria 4.0 sendo uma peça importante desta engrenagem. Fico imaginando uma produção toda conectada ser parada pela simples falta de uma ferramenta de corte ou estar usinando com parâmetros de corte inadequados. Artigos escritos a partir da metade dos anos 80 e início dos 90 já descreviam a conectividade e de troca de informações entre as diferentes soluções utilizadas no processo de fabricação por usinagem utilizando banco de dados, redes e computadores como algo fundamental para reduzir custos e aumentar assim a produtividade e competitividade das empresas [3, 11, 12]. Sistemas que trocavam informações entre si, que incluíam até mesmo AVGs no transporte de ferramentas pela fábrica, já foram idealizados há 30 anos atrás [13].
Como estamos na era da evolução exponencial trago ao tempo presente, de maneira simples, os 30 anos de Gerenciamento de Ferramentas e os 10 de Indústria 4.0 e pergunto: Quantas empresas estão operando realmente em todo potencial dentro destes conceitos? Como é minha área de expertise, eu estimaria 0,1%. E com parte do conceito bem aplicado, talvez 1%.
Aqui surge o 3º paralelo pois as empresas que adotaram corretamente o conceito e soluções de TLM em sua plenitude ou em parte, são justamente as líderes, com os melhores exemplos da Indústria 4.0, consideradas pelo Fórum Econômico Mundial na seleta lista das 69 empresas da Rede Global do Farol da Indústria 4.0 [14]. Será que a Indústria 4.0 está fadada ao mesmo destino, ficar restrito a este mesmo grupo/perfil de empresas?
Em alguns momentos, estes números me frustram, pois algo tão óbvio (pelo menos para mim) e que tem tecnologias maduras e comprovadas na prática por empresas conhecidas por sua posição de liderança ou destaque em seus mercados, ainda são inexpressivos. Em outros momentos, me anima saber que há muito a ser feito. Como fornecedor de soluções (software e hardware) para o TLM me sinto como os primeiros vendedores de sistemas CAD em um mercado que ainda desenha na prancheta. Quando ouço a empresa falar de iniciativas 4.0 e conheço o descaso da gestão de ferramentas, não consigo evitar de compará-la com a criança que quer correr antes mesmo de aprender a caminhar.
Me pergunto qual a razão da baixa adoção do GF ainda nos dias de hoje na maior parte das empresas. Falta de conhecimento desta teoria organizacional e de suas ferramentas para aplicá-la na prática, falta de recursos (*tempo, dinheiro e pessoas) ou falta de vontade mesmo?
Li um artigo recente em que apontava a influência do modelo mental das pessoas no sucesso de projetos de gerenciamento de ferramentas, peço desculpas, mas perdi a referência. Algo semelhante foi observado por Prim em seu estudo com relação à Indústria 4.0 no Brasil [15].
Algumas pessoas têm perfil proativo, são inconformadas com erros e ao identificá-los, aceitam o desafio, buscam uma solução e partem para ação. Como recompensa obtém resultados expressivos tanto para a empresa como no desenvolvimento de suas carreiras. Sempre lembro de dois casos que acompanhei em que os estagiários assumiram para si a responsabilidade do projeto, se destacaram, geraram resultados e hoje estão como diretor geral e vice-presidente em suas respectivas organizações. Coincidência?
Enfim, há uma grande oportunidade a ser explorada. Ao invés de reclamar e culpar os fatores externos, é possível olhar para dentro e tomar ações que não dependem de mais ninguém. Novamente volto a tecla do 1% e 0,1%, mas agora com relação às pessoas e ao buscar alguma referência à minha suspeita chego a uma pesquisa sobre atletas de alto rendimento da NFL. A pesquisa aponta que somente 1% dos jogadores no high school chegam a jogar nas universidades e 0,1% dos que jogam nas universidades chegam à NFL e são bem-sucedidos [16].
E você, em qual liga está ou quer jogar? Em qual liga está ou quer colocar sua empresa?
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