Em alguns dos últimos relatórios do Fórum Econômico Mundial e do Fórum Mundial de Manufatura esse assunto tem vindo à tona, incluindo questões ligadas ao tipo de competências técnicas (hard skills) e não-técnicas (soft skills) que as pessoas deverão passar a ter no mercado de trabalho atual e futuro de até no médio prazo.
Em outubro passado o Fórum Econômico Mundial publicou o The Future of Jobs Report 20201, um documento de acesso público de 163 páginas específico sobre o assunto. Interessante mencionar que o relatório procura cobrir também aspectos ligados às consequências da Covid-19 e a “nova realidade” que vem surgindo em função dela.
Além disso, nos dois terços finais do documento, como anexo, há uma descrição detalhada de inúmeros indicadores socioeconômicos atuais de inúmeros países, dentre os quais o Brasil, onde informações sobre emprego e profissões são também particularizadas.
Abaixo copio alguns dos dados e gráficos que considero mais relevantes para uma rápida visão sobre o relatório. Todos são extraídos diretamente do relatório e, por isso, estão em inglês.
Um dos primeiros pontos focados no relatório é o que as empresas pretendem fazer no curto prazo para responder à Covid-19 em termos dos seus colaboradores:
Já a figura abaixo mostra as alterações que as empresas pretendem fazer nas suas forças de trabalho até 2025:
Quanto as tecnologias mais prováveis de serem fortemente adotadas nos seus negócios, as empresas apontaram o seguinte:
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A figura abaixo detalha o uso previsto dessas tecnologias por grandes áreas, o que é um importante indicativo sobre tendências e potenciais para futuros negócios para empresas provedoras de soluções:
Com relação a automação de tarefas, e quais delas tenderão cada vez mais a serem “divididas” por sistemas computacionais, tem-se o seguinte:
Em termos de atividades & profissões, o relatório aponta para as seguintes em ascensão e em declínio:
A figura abaixo detalha isso, procurando identificar as profissões associadas às novas tendências:
Entretanto, a plena adoção das modernas tecnologias pelas empresas esbarra em uma série de obstáculos:
Sobre as habilidades mais relevantes para o novo cenário de trabalho, as seguintes 15 têm sido / serão as mais valorizadas e procuradas:
A figura abaixo detalha isso, enumerando as habilidades mais necessárias por tipos das principais emergentes profissões.
Diante desse gráficos, algumas das perguntas me parecem necessárias de serem feitas com relação ao Brasil, por exemplo: “Qual é o papel das instituições públicas e privadas de ensino para formarem pessoas qualificadas para essa nova realidade ? Quantos cursos clássicos de engenharia - nos moldes como são dados até hoje - talvez já não façam mais sentido e, ao mesmo tempo, quantos cursos completamente novos são necessários ? Que tipo de estrutura curricular, ligação com a prática e empresas, etc., é necessário para que os aprendizes saiam efetivamente preparados para a realidade, cada vez mais dinâmica e que requer constante retreinamento, aprendizagem e desaprendizagem ? Como preparar os professores para tal ? Que tipo de infraestruturas físicas e lógicas/computacionais são necessárias ? Como levar a devida qualificação aos rincões do País, longe dos grandes centros e com razoáveis qualidades de conectividade ?" Entre outras.
Já existem vários estudos sobre isso. O problema é que enquanto muitos países, apesar de terem ciência das dificuldades, estão enfrentando a questão de frente e tentando introduzir mudanças significativas nas suas estruturas de ensino e tentando realmente melhorar a qualidade, aqui no Brasil, com poucas exceções, pouco se tem feito na prática.
Vivemos um enorme apagão de mão de obra (ou de “agentes de transformação”), com o agravante adicional que estamos perdendo anualmente milhares de jovens qualificados para os países mais desenvolvidos. Segundo levantamento do Senai em 20192, o Brasil precisará qualificar 10,5 milhões de trabalhadores industriais até 2023 para suprir a demanda de profissões ligadas à tecnologia, tanto em nível técnico como superior, para atividades de engenharia, TI, gestão da produção, entre outras. O Fórum Mundial de Manufatura3 estima que 1,17% do PIB do Brasil seja afetado pela baixa qualificação e produtividade, o que significa um impacto de 781 bilhões de dólares em 10 anos.
A mim parece que somente com governantes com grande visão estratégica e com um grande pacto nacional e apartidário de longo prazo (algo como 30 anos) entre o governo executivo, legislativo e a iniciativa privada poderão nos tirar da difícil situação atual, atacando as gerações atual e vindouras, com foco em qualidade da educação e da formação humana e profissional. Isso passa por ter mais recursos para investimento em infraestruturas, formação de professores, currículos adequados, comprometimento por resultados efetivos de aprendizagem (e não apenas para constar de estatísticas), e uma grande mudança na mentalidade das universidades públicas sobre seu papel nesse contexto todo de formação profissional numa sociedade cada vez mais dinâmica em termos de demandas. Organizações como o Senai, por exemplo, têm feito um excelente trabalho, mas não há como conseguir fazerem isso sozinhas. Só uma educação de qualidade e alinhada às necessidades da sociedade conseguirão fazer com que diminuamos a desigualdade, gerando mais e melhores empregos e empresas, renda e impostos, e tudo o que advém desse ciclo virtuoso.
O fato é que, sem iniciativas desse tipo, vamos continuar patinando, enquanto inúmeros outros países, incluindo alguns que até há pouco eram bem menos desenvolvidos que o Brasil, deslancham a olhos vistos. É possível. Mas há que ser muito mais efetivo !
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