por Marcus Bittar    |   04/04/2020

Sustentabilidade como uma prioridade corporativa

Em seu clássico “A Riqueza das Nações”, de 1776, o filósofo escocês Adam Smith disse que, no final da busca por seus interesses econômicos, os líderes empresariais teriam de mudar seus rumos e servir, fundamentalmente, as demandas da sociedade.

Hoje, mais de 240 anos após a publicação da primeira edição deste pensamento, ainda é difícil afirmar se o autor estava correto. Mas uma coisa é inegável: a discussão sobre sustentabilidade está mais presente do que nunca na vida de todos.

Depois de décadas assumindo que o único papel dos negócios era gerar lucros para seus acionistas, como diria o economista Milton Friedman, está claro que as questões sociais, ambientais e econômicas ganharam novos papeis na rotina das companhias públicas e privadas, tornando sustentabilidade e a lucratividade pontos muito mais interligados do que jamais poderíamos imaginar. Com isso, as empresas estão percebendo que será imprescindível buscar maneiras de alcançar esses dois objetivos de forma conjunta. Gerar mais lucro e trabalhar de modo sustentável parecem temas distintos, mas estão cada vez mais interligados na sociedade moderna.

Vale dizer, aqui, que sustentabilidade não é apenas o modo como as empresas se relacionam com o meio ambiente, mas, principalmente, como lidam com questões mais amplas, como demandas sociais (como justiça, oportunidade e qualidade de vida) e econômicas (incluindo o impacto de empresas em comunidades e sua viabilidade a longo prazo).

Temos de pensar a sustentabilidade, portanto, como um processo que envolve três frentes: as Pessoas, o Planeta e o Lucro. Equilibrar esses fatores é o que nos permitirá criar uma economia circular, com negócios rentáveis e sustentáveis.

Nessa nova dinâmica, negócios e indústrias que não mudarem as suas abordagens correrão sérios riscos de desaparecer. Para atender às necessidades e ao contexto do século XXI, é necessário repensar todos os aspectos, investindo em tecnologia e políticas culturais que valorizem a sustentabilidade como um modo de operação recorrente.


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Isso acontece, entre outros motivos, porque os consumidores e a sociedade estão mudando seus papeis, assumindo a posição de verdadeiros protagonistas da era digital. Além do mais, os cidadãos estão cada vez mais descrentes sobre a capacidade dos governos. Com isso, as empresas passam a ocupar um novo espaço de responsabilidade social, ambiental e econômico, tendo que lidar com novos desafios muito mais desafiadores.

A expectativa em torno do posicionamento das marcas afeta, evidentemente, o nível de consumo dos clientes e até a capacidade de contratação de novos funcionários. Pesquisas internacionais mostram que mais de 65% dos trabalhadores esperam que seus empregadores tenham um objetivo social maior e que seus empregos tenham um impacto positivo na sociedade. Por isso, as pessoas estão confiando mais em empresas do que em governos e deixando de consumir produtos de marcas que não estão em sintonia com as suas expectativas.

É importante deixar claro que adotar uma postura centrada em ações sustentáveis não tem como objetivo apenas fugir dos problemas legais ou de atritos com os clientes. Ao contrário. A implementação de um modelo pautado na sustentabilidade deve ter como objetivo ajudar a melhorar o mundo, garantindo, assim, melhores resultados para as marcas.

À medida que temas como poluição, mudanças climáticas e justiça social tornam-se questões importantes para as empresas e seus clientes, a capacidade de adaptação ganha ainda mais importância para o mercado. O ranking Future 50 Sustainability All Stars, criado pela revista Fortune e que elege a Dassault Systèmes como uma das companhias de destaque, é um exemplo de como as empresas mais sustentáveis estão ganhando espaço, mostrando que é possível aliar lucro e responsabilidade sustentável em uma mesma agenda de trabalho.

Essa capacidade está sendo acompanhada de perto pelo mercado financeiro. Um estudo recente da Universidade de Oxford destaca que mais de 80% dos principais investidores do planeta já admitem que consideram a responsabilidade ambiental, social e a governança corporativa como fatores de extrema importância para o processo de decisão de novos investimentos.

As companhias que conseguem economizar recursos naturais e melhorar a relação com suas comunidades deverão receber mais aportes por terem também a sustentabilidade como parte de sua estratégia de negócios e como fator de atração de talentos.

Por isso, embora cada negócio tenha diferentes maneiras de enfrentar os desafios do mercado, o fato é que os líderes devem começar a desenvolver o quanto antes uma forte estratégia de sustentabilidade, usando a tecnologia para promover suas atividades e para obter uma visão abrangente de suas operações. Somente assim, será possível controlar processos, melhorar a visibilidade do trabalho, antecipar desafios emergentes e ser mais assertivo no processo de tomada de decisões.

Com a sustentabilidade emergindo como um imperativo para a economia atual, é de se esperar que mais empresas adotem plataformas tecnológicas para acelerarem seus negócios, obtendo insights sobre toda a sua cadeia de valor, inclusive com uma visão tridimensional. Os líderes empresariais que melhor explorarem os recursos e os benefícios das novas tecnologias estarão condições de posicionar suas companhias em um novo patamar no mercado, preparando-as para um cenário sustentável e com grandes saltos de crescimento.

O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

Marcus Bittar

Consultor da Dassault Systèmes para a América Latina