Revolução 4.0 vs Religião

Um terço dos brasileiros não acredita na produção científica, conforme a pesquisa Wellcome Global Monitor 2018 realizada pela Gallup em mais de 144 países e divulgada em julho de 2019. Um tema sem dúvidas delicado, mas que já passou da hora de ser discutido, pois não podemos querer desenvolver novas técnicas científicas defendendo uma visão criacionista do mundo nem enfrentar os paradoxos e problemas globais sob a crença de que tudo advém da vontade de um ser supremo.

Por: Wesley Sa Teles Guerra      07/08/2019

Um terço dos brasileiros não acredita na produção científica, conforme a pesquisa Wellcome Global Monitor 2018 realizada pela Gallup em mais de 144 países e divulgada em julho de 2019. Um número alarmante em uma época crucial não somente para o país, como também para o resto do mundo.

É importante ressaltar que o objetivo deste artigo não é o de questionar ou criticar as crenças, religiões e dogmas da população, mas expor o impacto do discurso religioso no desenvolvimento do país.

O mundo passa pela quarta revolução industrial ou também chamada de Revolução 4.0, um processo silencioso cujo impacto irá reconfigurar a balança de poder mundial e todas as dinâmicas sociais, políticas e econômicas conhecidas.

Nações de diversos continentes investem pesado em novos processos produtivos derivados da evolução da robótica, da aplicação da inteligência artificial e da racionalização dos espaços urbanos, além da crescente preocupação na manutenção do meio ambiente e na integração entre o mundo real e o digital.

O conhecimento científico e a informação se transformaram nos principais commodities do mundo, algo que se reflete no ranking das maiores empresas e marcas do planeta, cujos líderes são organizações que possuem como principal recurso a gestão da informação e a intangibilidade dos recursos financeiros.

A participação da população nesse processo de transformação é fundamental, pois o potencial de mudança da Revolução 4.0 sem dúvidas irá alterar as relações laborais, produtivas e as dinâmicas sociais.

Por esse motivo é importante haver um alinhamento entre a população e a estratégia de desenvolvimento das nações no alcance dos objetivos almejados.


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Dessa forma o discurso religioso defendido por integrantes de diversas composições partidárias se transformou em um fator de risco no processo de desenvolvimento da Revolução 4.0, uma vez que se opõe ao conhecimento científico.

Não é possível discutir a evolução dos sistemas de geo-posicionamento quando o povo acredita que o planeta é plano; não é possível justificar o gasto público na investigação para a produção de novas vacinas quando a população é contra a imunização de suas crianças; assim, mesmo o desenvolvimento de novos métodos produtivos, energias e recursos alternativos não será possível em uma sociedade que nega o impacto da ação humana no planeta e a limitação dos recursos.

A figura do homem visto como criação de Deus, superior e que domina as demais formas de vida no planeta coloca em perigo a concepção sistêmica dos recursos naturais e o desequilíbrio existente no meio ambiente, assim como promove a incapacidade de visualizar as desigualdades derivadas dos problemas produtivos e de distribuição mantida pela visão do homem como representante do poder divino e que subjuga a criação. Isso atrelado a visões ideológicas justificam esse posicionamento.

Existe uma relação entre a taxa de religiosidade e o desenvolvimento de uma nação, sendo os países laicos ou com menor índice de praticantes os que apresentam um maior grau de desenvolvimento.

Porém é importante ressaltar que a religiosidade ou espiritualidade não necessariamente são empecilhos para o desenvolvimento, mas que os impasses surgem da aplicação fundamentalista dos preceitos religiosos frente aos interesses de uma nação. Quanto maior é a relação entre a religião e o Estado, menor é o grau de autonomia e de desenvolvimento tecnológico de uma nação. Pelo simples fato de que o conhecimento científico e o desenvolvimento são limitados pelo sistema de crenças e a visão teológica do mundo.

Sendo assim é importante considerar o impacto do discurso religioso no desenvolvimento de um país, já que por um lado pode estimular as pessoas a uma maior consciência social, mas por outro pode limitar o próprio desenvolvimento da sociedade por barreiras impostas pela religião e sua negação dos fatos científicos.

Um tema sem dúvidas delicado, mas que já passou da hora de ser discutido, pois não podemos querer desenvolver novas técnicas científicas defendendo uma visão criacionista do mundo nem enfrentar os paradoxos e problemas globais sob a crença de que tudo advém da vontade de um ser supremo.

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Wesley Sa Teles Guerra

Wesley Sa Teles Guerra

Wesley Sa Teles Guerra, PhD International Relations Researcher, Master Social Policy & Migrations, MBA Global Partnership, MBA Marketing. Director of CERES (Center of International Relations Studies). Specialist in development and innovation.