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Estender o ciclo de vida do produto também é sustentabilidade, afirma VP da Siemens

Em entrevista, VP de Smart Infrastructure da Siemens diz o que a companhia tem feito para colaborar com a transição energética no Brasil

Por: Karina Pizzini/ Especial CIMM e Ind4.0      Exclusiva 11/03/2024 

A Siemens está consolidando seu papel como líder em avanços em sustentabilidade e digitalização para infraestrutura inteligente, conforme destacado por William Pereira, VP de Smart Infrastructure da empresa. Em uma entrevista recente ao Ind4.0, Pereira enfatizou a estreita relação entre digitalização e sustentabilidade, ressaltando o compromisso da Siemens em contribuir para a transição energética no Brasil. 

Então perguntamos a ele: O que a Siemens tem feito no Brasil para colaborar com a transição energética? Sua produção é tão verde quanto às ofertas aos seus clientes?

O  que você lê abaixo é um resumo da conversa que tivemos durante a abertura do Digital Experience Center da Siemens, em São Paulo, em dezembro. 

Mobilidade elétrica e infraestrutura sustentável

Pereira destaca a mobilidade elétrica como uma estratégia global para descarbonização, enfatizando o papel da Siemens na criação da infraestrutura necessária para carregamento de veículos elétricos. Isso inclui a instalação de subestações e carregadores elétricos ao longo de estradas, buscando uma mobilidade mais sustentável mesmo em um país com forte indústria de biocombustíveis. “A digitalização vai entrar primeiro”, afirma. 

William Pereira é VP de Smart Infrastructure da Siemens. Imagem: Divulgação/Siemens

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Ele ressalta como a digitalização pode revolucionar a infraestrutura elétrica, usando o exemplo das subestações, anteriormente operadas de forma analógica e agora coletando dados em tempo real. Segundo ele, a implementação da digitalização na gestão de subestações traz benefícios significativos na otimização do uso de recursos. Antes, eram necessários extensos cabos de cobre e plástico para transmitir dados, porém, com a fibra óptica, essa demanda é drasticamente reduzida. Além disso, a simulação digital permite um dimensionamento mais preciso das subestações, evitando desperdícios de materiais, explicou.

Eficiência energética em edifícios

Sobre a aplicação da digitalização em edifícios e prédios industriais, Pereira destaca a automação do ar-condicionado como exemplo de eficiência energética, afirmando que, com sensores inteligentes, é possível ajustar automaticamente a temperatura de acordo com a ocupação do ambiente, reduzindo o consumo de energia. Ou mesmo utilizar gêmeos digitais para simular o funcionamento adequado sem desperdiçar energia ou ter um número de equipamentos a mais ou a menos do necessário.

"Quando eu falo, por exemplo, de automação dentro de um edifício, eu vou falar do ar condicionado, que é um dos maiores vilões de consumo de energia dentro de um edifício", diz. 

A mesma lógica que funciona para smart buildings funciona para smart factories. Pereira conta que há alguns anos, a empresa instalou sensores inteligentes em todas as áreas das suas fábricas com o objetivo de reduzir ao máximo o consumo de energia elétrica, como parte do compromisso de sustentabilidade da empresa.

Nas futuras redes inteligentes, a eletricidade já não será gerada em grandes centrais elétricas, mas cada vez mais em pequenas unidades locais. Imagem: Siemens

Com isso, a conectividade se torna a chave para maior eficiência em prédios industriais e também nas linhas de produção. Na aplicação da digitalização na indústria, a construção e otimização de máquinas através dos gêmeos digitais oferece uma economia significativa de tempo e recursos, evitando a necessidade de protótipos físicos. Enquanto a coleta de dados das máquinas permite a implementação de manutenção preditiva, garantindo a continuidade da produção e minimizando períodos de inatividade, segundo Pereira.

“Essa máquina está em uma indústria, ela não pode parar. Se ela parar, é muito mais tempo de máquina parada, menos produção e tudo mais. Então esse é o outro ponto da cadeia. A gente fala que o digital vai do início ao fim. Você começa no protótipo, [...] mas o ciclo de vida dela também precisa ser acompanhado - como vai ser o ciclo de vida dessa máquina até eu produzir, até fazer a manutenção, e tudo mais. Então, tudo isso você acompanha através de digitalização”.

Digital twin

Digital twins permite que os clientes reduzam significativamente o tempo e os recursos no processo de produção. Imagem: Siemens

Pereira explica como a Siemens adotou o conceito do digital twin, mesmo antes do termo se popularizar, reconhecendo a crescente importância do software na indústria. Ele ilustra seu ponto com um exemplo prático: imagine uma máquina virtual onde você pode simular até mesmo danos físicos, como dar uma martelada na estrutura, para prever seu comportamento real. Essa abordagem permite que os clientes reduzam significativamente o tempo e os recursos necessários para desenvolver e ajustar máquinas, beneficiando tanto eles quanto a sociedade em geral. 

Pereira destaca um caso específico na indústria de papel, onde a utilização do ambiente virtual permitiu testes mais precisos e rápidos, resultando em entregas mais rápidas e eficientes para os clientes. Essa abordagem não apenas beneficia os clientes, mas também pode contribuir para a prevenção de problemas em infraestruturas críticas, como apagões, proporcionando impactos positivos para o país.

Responsabilidade corporativa e sustentabilidade

A Siemens está adotando medidas para tornar seus produtos e processos mais sustentáveis. Isso inclui a implementação de ecodesign em seus produtos, utilizando materiais recicláveis e buscando maneiras de estender o ciclo de vida dos produtos, como substituir soldas por peças modulares. Além disso, a empresa está investindo em tornar suas fábricas mais sustentáveis, reduzindo o consumo de energia e buscando fontes renováveis, como energia solar e eólica, para suas operações. 

Estender o ciclo de vida de um produto também é sustentabilidade. Então como é que eu estendo o ciclo de vida de um produto? Começamos a perceber que em alguns produtos nossos, por exemplo, as soldas poderiam ser eliminadas para termos mais modularidade”. Ou seja, ao invés de um produto inteiro ser substituído por outro produto inteiro, utilizando, assim, mais recursos, a empresa está optando por desenvolver produtos que possam ter peças substituíveis. “O próprio cliente pode tirar aquela pecinha e colocar uma outra no lugar”, comenta. 

Enquanto isso, internamente, a Siemens tem feito seu dever de casa. As instalações de São Paulo, onde fica localizado o novo Digital Experience Center (DEX) da empresa, estão passando por uma transformação conhecida pela empresa como Green Digital

O projeto Anhanguera Green & Digital é um bom exemplo de utilização de soluções tecnológicas na consolidação de operações sustentáveis, em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Ele foi lançado pela Siemens em 2022 e prevê o desenvolvimento de soluções para as instalações da sede da empresa no Brasil, localizada em São Paulo, tais como controle de temperatura de ar-condicionado, de fluxo de água e consumo de energia, entre outros, todos monitorados por ferramentas digitais. A localidade será conectada a uma rede mundial de edifícios da Siemens, na qual é possível trocar experiências e melhores práticas.

Além disso, buscar o consumo de energia elétrica de fontes renováveis é um grande passo para a economia de baixo carbono. “Na Siemens, 100% da energia elétrica consumida na localidade Anhanguera e em Jundiaí são provenientes de fontes renováveis, sendo que, em Jundiaí, houve redução de consumo de 56%, com as medidas tomadas nos últimos anos. Durante a pandemia, foram instaladas 4 mil lâmpadas de LED, reconhecidamente mais econômicas, e as válvulas automáticas instaladas nos vasos sanitários da Anhanguera geraram uma economia de 200 m³/ano. Outros projetos, como a automação e a modernização do ar-condicionado, também geraram economia de 72%”, disse Pereira, que está situado no escritório de Jundiaí.

Mais uma vez, Pereira enfatizou que a digitalização é essencial para a transição para uma economia mais sustentável, argumentando que ela não apenas melhora a eficiência, mas também reduz o impacto ambiental, permitindo o uso mais inteligente dos recursos.

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Entrevista exclusiva realizada em viagem a São Paulo à convite da Siemens para a inauguração da DEX, em dezembro de 2023. William de Almeida Pereira é formado em Engenharia Mecatrônica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, com MBA em Gestão de Empresas pela FGV. Iniciou sua jornada na Siemens em 2001, ainda como estagiário. Pereira acumulou uma vasta experiência em diversas áreas da multinacional alemã, incluindo service e vendas, antes de assumir a liderança da unidade de negócios de Electrical Products. Em novembro de 2022, foi nomeado Vice-presidente da Operating Company Smart Infrastructure da Siemens no Brasil, onde supervisiona uma ampla gama de soluções e produtos, desde automação industrial e predial até serviços de eletromobilidade. 

* Esta empresa é parceira do Grupo CIMM

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